sábado, dezembro 29, 2007

Antologia Improvável #276 - António Barahona (3)

COMENTÁRIO ALCORÂNICO

Quanto aos poetas, os que erram, seguem-nos.
Não tens visto como eles vagueiam pelos vales
E como dizem isso que não praticam?
Alcorão

Vagueio pelos vales a falar sozinho:
não me lavo, não rezo, não me lembro
de Deus: apenas fumo o meu cachimbo
e saboreio Deus que sabe a fumo

Devagaroso a falar à pressa deliro
e digo o que não faço e faço o que não digo,
contraditório, incoerente, obsessivo,
mas verdadeiro eco de mim próprio

Que Deus me dê a força da fraqueza
que verga mas não quebra e endireita
mais dúctil do que a vara mais fibrosa

Que Deus me dê os vales mais obscuros,
lá onde a vista alcança só beleza
ao fundo da paisagem dos teus olhos

Lx., 20.VIII.85

2 comentários:

vieira calado disse...

Conheci o Barahona da Fonseca quando era cristão.
Julgo que foi no princípio dos anos 60 que abraçou o islamismo.

Ricardo António Alves disse...

E que bem lhe fez...