sábado, outubro 21, 2006

Antologia Improvável #172 - Rui Lage

CÉU ABERTO

Diz-se
que em certas noites
dorme no monte junto ao cavalo;
que bebe muito e cai pela terra
em redondo o pensamento,
que a sua cama não tem lençóis
e que a suportam quatro tijolos;
que nunca lava as escadas
e que nunca lava a roupa
embora permaneça preso ao ribeiro
muito depois
de as mulheres terem partido.

As árvores, que se saiba,
não se lavam
e dormem ao relento
encostadas ao cavalo do estio
(se assim não fosse não amaria
o que já não seriam árvores).

Berçário

2 comentários:

magarça disse...

Não conhecia este poeta. Muito bonito, o poema.

Ricardo António Alves disse...

País de poetas, diz o lugar-comum; mas país de bons poetas, que se sucedem a cada geração.