STABAT MATER IV
A luz fria de Dezembro consentiu
que erguesse a mão, a que nada
tinha para dizer. No dia em que fazia anos.
"Tudo morreu" -- voltou a dizer Aurora, Dona
Aurora, última sobrevivente de um bairro
em que pretos e ucranianos procuram como ela
comprar mais barato tudo aquilo que nos mata.
A quem deixará, não sabe, tantas bonecas,
coisas de perder concretas, de Espanha
ou de longe trazidas. O tecto -- reparem --
caiu um pouco mais. O frigorífico está desligado.
São poucos os clientes que lhe suportam
a miséria, panela de couves sem lume.
Com a poesia, bem sei, é a mesma coisa.
Mas eu prefiro esta taberna a todos os poemas
que já li. Não foram muitos, de resto.
Encostamos a porta -- uma caixa de bolachas,
pelo dia dos seus anos, dirá a ninguém
que estivemos ali. Dois dias antes do Natal,
à espera de que tudo finalmente morra.
A Flor dos Terramotos
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