quinta-feira, outubro 15, 2020

perseguição - «Eurico o Presbítero» (17)

Continuar: «Os socorros dados imediatamente a Abdulaziz tinham-lhe restituído o sentimento da vida.» Cap. XV, «Ao luar», pp. 200-218 da minha edição.


A perseguição nocturna pelo planalto que vai de Segisamon às Astúrias. O Cavaleiro Negro e os outros afrouxam o galope para retardarem os mouros, enquanto Hermengarda, escoltado por Astrimiro e Gudesteu se dirige para o reduto inexpugnável daquelas montanhas setentrionais.

O estilo de Alexandre Herculano é vívido, ao contrário do que se diz -- e até certo ponto acertado para a sua poesia, brônzea, reza o lugar-comum --, como segue neste parágrafo tão rico de movimento e som: «Na extensa chapada, tanto a fuga como a perseguição eram um frenesi, um delírio. Cristãos e Muçulmanos desapareciam por entre as sarças cobertas de orvalho, e o ar, dividido violentamente, zumbia-lhes em roda, como um gemido contínuo. Cristãos e Muçulmanos punham o extremo da diligência nesta última tentativa. Além da planura, os alcantis e as selvas gigantes eram a esperança de uns, o desalento de outros. Ali, os precipícios cortavam subitamente os caminhos abertos pelas feras nas balsas, e ao cabo de vale fundo os rochedos fechavam imprevistamente a saída: aqui, a senda tortuosa ia morrer na torrente; lá, a torrente em catadupa. Os Godos afeitos àqueles desvios alpestres, sabiam-no; os Árabes adivinhavam-no ao descortinarem o espectáculo que tinham ante si, essa espécie de caos nascido das grandes convulsões do globo na sua vida de muitos séculos, que a baça claridade da noite tornava ainda mais fantástico.»


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