sexta-feira, janeiro 25, 2019

o que sei sobre os acontecimentos do Bairro da Jamaica

1. o que se confirma. A polícia foi chamada por alguém do bairro para pôr termo a uma zaragata que ocorrera entre mulheres. Fazendo fé na veracidade da fotografia que a PSP divulgou, um polícia foi agredido com uma pedrada na boca, e teve de receber tratamento médico. Isto é o que se diz, e tomo as informações como verdadeiras. Por isso, deve dizer-se que, mesmo com razões de queixa que possam existir sobre o comportamento censurável de alguns elementos da polícia, a agressão gratuita é inadmissível.

2. o que se vê. Polícias em torno de um indivíduo, eventualmente resistindo à coacção (as imagens não são nítidas). Era esse indivíduo o agressor? Não faço ideia; se era, a coacção policial justificava-se, se não era, a polícia esteve mal. E esteve também mal quando agrediu com bastonadas uma mulher e um homem, pais do indivíduo, veio a saber-se, quando se percebe nitidamente que não havia por parte deste qualquer atitude violenta, antes uma notória tentativa de apaziguamento.

3. o que não pode haver. Polícias que não circulem à vontade em qualquer aglomerado do país; polícias que desrespeitem os cidadãos, através do abuso da autoridade ou de qualquer espécie de abordagem racista, que deve ser sancionada exemplarmente; e recordo que tanto a PSP como a GNR dispõem de muitos agentes e militares negros; seria bom uma comissão independente, integrando elementos de todos os partidos com representação parlamentar, mas não só, ouvir a sua percepção da realidade. Talvez fosse útil, para esclarecimento de todos.

4. a política.  A polícia, como em qualquer organização, tem gente de grande qualidade e tem escumalha. Concordo, portanto, completamente com as declarações Catarina Martins; também Marcelo Rebelo de Sousa disse o que competia a um Presidente da República: mostrou preocupação, equidistância e ponderação. O dirigente do SOS Racismo, Mamadou Ba, esclareceu claramente o teor das suas palavras. Só não percebem os estúpidos e os insignificantes à procura de cinco minutos de notoriedade.

Não vale a pena fingir que não há racismo, porque há -- em especial um racismo classista que larva por entre os segmentos mais desqualificados da população (é ouvi-los), que obviamente quer ser aproveitado pelos demagogos e pelos 34 activistas da extrema-direita que andam por aí a fazer pela vida, tentando que lhes dêem uma importância e influência que não têm.

A existência dum aglomerado daqueles num concelho da área metropolitana de Lisboa em 2019 é uma vergonha e não tem nenhuma justificação, em especial depois da existência dum Programa Especial de Realojamento (PER), que permitiu acabar com bairros degradados em vários concelhos. Se eu fosse do PCP, diria que isto é o resultado das políticas de direita; como não sou, digo que isto é o resultado das políticas de direita e das políticas do deixa andar, à direita e à esquerda.


3 comentários:

Luis disse...

conhecendo como conheço o Bairro em causa,não posso deixar de dizer que lá como em todo o lado à gente boa e má no caso em apreço,o racismo existe tanto nos brancos como nos pretos,somos todos iguais e não é a cor da pele que nos faz melhores ou piores,quanto à policia fez o seu dever,por isso foi chamada a repor a ordem pública devido a desacatos entre 2 famílias e foram recebidos à pedrada por serem policias,como tal actuaram como deviam,a Catarina Martins quer é votos e vale tudo
por esses votos.

hmbf disse...

Muito bem. Concordo com tudo, excepto com isto: "34 activistas da extrema-direita". Já não são apenas 34, e a TV começou a dar-lhes guarida. O que não augura bom futuro.

R. disse...

Kodak Khrome, o carnaval começa quando um polícia chamado por gente do bairro é agredido com um calhau em cheio na boca. Se quem atirou foi o aquele tipo que foi detido, deve ser sancionado (a não ser que achemos que os polícias têm menos direitos do que os cães). Sim, o senhor agredido a despropósito era o pai. Aliás, parece que a família -- pai mãe e filho -- já apelou a uma manifestação pacífica, dando uma lição de civismo à excitação geral.

Luís Garcia, se bem ouvi Catarina Martins, ela limitou-se a dizer o que todos os outros actores políticos disseram, com maior ou menor ênfase: as forças de segurança são fundamentais numa sociedade; há elementos dessas forças que mancham as fardas. Como discordar disto?

Henrique, não augura, se continuarmos no deixa andar. Qualquer força política que defenda qualquer espécie de discriminação deve ser perseguida e ilegalizada. Aliás, já vi cartazes do pnr que mais do que pisarem o risco, já o ultrapassaram. O problema não são os 34 (vá lá, 43) do pnr, que metem medo às pessoas; são os alguns patifes penteadinhos e engravatados que sabem como manipular as massas.