segunda-feira, outubro 07, 2013

eu ainda não sabia: A SELVA #2

Quando me pus a ler, pela primeira vez, A Selva (1930), de Ferreira de Castro, já no final da minha adolescência (a capa é essa mesma, em baixo, à esquerda), deparei-me com um incipit que me deu a sensação de que isto era diferente do costume:
«Fato branco, engomado, luzidio, do melhor H. J. que teciam as fábricas inglesas, o senhor Balbino, com um chapéu de palha a envolver-lhe em sombra metade do corpo alto e seco, entrou na "Flor da Amazónia" mais rabioso do que nunca.»
Digamos que não vislumbrava aqui burrinhos de João Semana, burgueses da lísbia ociosa, ceifeiros rebeldes ou malteses, nem professores frustrados & outros poucos terciários enconados com a vida. Não, isto era diferente.
Mas do que eu não suspeitava era que este início, que não anunciava nenhum romance de aventuras sobre mistérios amazónicos -- ao contrário do que poderia parecer, e isso creio que era para mim claro, já nesse então --, do que eu não supeitava era, entre muitas outras coisas, que A Selva se constituía como uma das mais negras narrativas que alguma vez viria a ler, e que o único desenlace permitido ao autor que avançara, com saber de experiência feito, por aquele labirinto vegetal, seria aquele que o livro consagrou. Mas também isso, muito depois de iniciada a leitura, quase só no fim, se me tornaria claro.
32.ª edição, Lisboa, Guimarães & C.ª, 1980.  


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