animais, no silêncio com que comemos
animais, na marcação do território
e animais, quando desafiados por um olhar
quinta-feira, janeiro 31, 2008
quarta-feira, janeiro 30, 2008
caderninho
Importunamos os outros se lhes pedimos a respeito do que escrevemos a sua opinião; ofendemo-los se não lha pedimos. José Bacelar
Revisão 2 -- Anotações à Margem da Vida Quotidiana
Revisão 2 -- Anotações à Margem da Vida Quotidiana
terça-feira, janeiro 29, 2008
Caracteres móveis - Joseph Conrad
Dizem que um nativo não fala com um branco. Falso! Nenhum homem fala com o seu senhor; mas a um viajante e a um amigo, a quem não vem para ensinar nem governar, a quem nada pede e tudo aceita, dizem-se essas palavras junto às fogueiras dos acampamentos, na solidão partilhada pelos mares, em aldeias fluviais, em clareiras rodeadas de florestas, dizem-se palavras que não têm em conta a raça nem a cor. Um coração fala e outro escuta; e a terra, o mar, o céu, o vento que passa e a folha que treme ouvem também a insignificância da história do peso da vida.
«Karain: uma recordação»
Histórias Inquietas
(tradução de Carlos Leite)
segunda-feira, janeiro 28, 2008
domingo, janeiro 27, 2008
Antologia Improvável #284 - João de Barros (7)
VIDA VITORIOSA
Foi uma vida vitoriosa, é certo,
A vida que vivi nesta jornada,
-- Não da vitória que se vê de perto,
E que se alcança, apenas desejada.
Não do triunfo que sorri, incerto,
E logo é fumo, e é pó, e é cinza, e é nada,
-- Mas doutra glória que ao meu peito aperto,
E só eu vejo, pura e recatada.
Porque em silêncio conquistei, lutando,
-- Quantas vezes perdido e miserando,
Quantas vezes vencendo a própria dor --
Esta alegria de passar na vida
Sendo uma força, que jamais duvida,
E uma voz clara como a voz do Amor!
Vida Vitoriosa
Foi uma vida vitoriosa, é certo,
A vida que vivi nesta jornada,
-- Não da vitória que se vê de perto,
E que se alcança, apenas desejada.
Não do triunfo que sorri, incerto,
E logo é fumo, e é pó, e é cinza, e é nada,
-- Mas doutra glória que ao meu peito aperto,
E só eu vejo, pura e recatada.
Porque em silêncio conquistei, lutando,
-- Quantas vezes perdido e miserando,
Quantas vezes vencendo a própria dor --
Esta alegria de passar na vida
Sendo uma força, que jamais duvida,
E uma voz clara como a voz do Amor!
Vida Vitoriosa
sábado, janeiro 26, 2008
quinta-feira, janeiro 24, 2008
são, sim senhora!
A T, do Dias que Voam teve a gentileza de dizer ao mundo que este é um blog(ue) muito bom, gesto que me sensibilizou. O pior foi ter de escolher (só) cinco assim mesmo bons, daqueles mesmo bons... Ainda pensei nomear os meus outros três blogues: A Caverna de Éolo, o Ferreira de Castro e a sublime porta, muito tentador (se eu não for o primeiro a gostar dos meus blogues, quem gostará?...), pois passaria largos dias a brincar comigo mesmo, com nomeações e contra-nomeações, sem ter de me preocupar com postagens... :) Mas atenho-me disciplinadamente às regras e arrisco escolher cinco entre (pelo menos) 50 que poderiam aqui marcar presença. E são eles: Aldina Duarte, Atlântico Azul, Pastéis de Nada, Ofício Diário e There's Only 1 Alice. Agora, quem quiser que nomeie mais cinco.
quarta-feira, janeiro 23, 2008
Antologia Improvável #283 - Alberto de Lacerda (6)
Os poemas de amor hão-de morrer
Hão-de morrer os teus cabelos
A tua maneira de baixar os olhos
A brisa que brilha às vezes
De encontro às tuas palavras
Pássaros de diáfano
Sangue
Luminoso
Os versos que pertencem
Nem a uma vida nem a outra morte
Oferenda II
(foto)
Hão-de morrer os teus cabelos
A tua maneira de baixar os olhos
A brisa que brilha às vezes
De encontro às tuas palavras
Pássaros de diáfano
Sangue
Luminoso
Os versos que pertencem
Nem a uma vida nem a outra morte
Oferenda II
(foto)
terça-feira, janeiro 22, 2008
segunda-feira, janeiro 21, 2008
domingo, janeiro 20, 2008
Caracteres móveis - Émile Zola
A tal escada ao fundo ainda era mais abominável do que as outras, os degraus todos empenados, as paredes viscosas, como que encharcadas por um suor de angústia. Em cada patamar os canos sopravam um hálito de peste, e de cada habitação saíam queixumes, questões, um horroroso nojo de miséria. Uma porta bateu, apareceu um homem, arrastando uma mulher pelos cabelos, enquanto três rapazes choravam. No andar superior, foi num quarto entrevista apenas a visão duma rapariga muito enfezada, a tossir, com a garganta já atacada, passeando violentamente uma criancinha de mama, para a fazer calar, desesperada por já não ter leite. Depois, foi ainda, num aposento ao lado, a vista pungente de três criaturas, meio vestidas de andrajos, sem sexo nem idade, que, no meio da nudez absoluta do quarto, comiam glutonamente, pela mesma tigela, uma mistela que os próprios cães teriam recusado. Mal levantaram a cabeça, rosnaram e não responderam às perguntas.
Paris
(tradução de Pandemónio)
esta semana há Caravan
Benny Goodman (c/ Lionel Hampton & Mel Powell), Billy Joel & Elton John, Lee Konitz, Caravan e Sex Pistols
sábado, janeiro 19, 2008
Antologia Improvável #282 - João de Barros (6)
Àqueles que sabem
e querem amar o
Futuro:
Foge o Presente, foge às mãos sequiosas
De cingi-lo, apertá-lo ao coração,
E as horas correm, tão vertiginosas,
Que mal as vemos, no seu turbilhão...
Umas dão sonho, noutras nascem rosas.
Sonhos e rosas -- porque nascerão?...
-- Como a volúpia incerta que tu gozas
Deixam saudades só, meu coração!
E é sempre esta saudade, esta agonia
De não viver a vida fugidia,
De ver fugir desejo, amor, verdade...
-- Mas o Futuro vela... E, fielmente,
Colhe as horas mais belas do Presente
E delas tece a nossa Eternidade!
Anteu
e querem amar o
Futuro:
Foge o Presente, foge às mãos sequiosas
De cingi-lo, apertá-lo ao coração,
E as horas correm, tão vertiginosas,
Que mal as vemos, no seu turbilhão...
Umas dão sonho, noutras nascem rosas.
Sonhos e rosas -- porque nascerão?...
-- Como a volúpia incerta que tu gozas
Deixam saudades só, meu coração!
E é sempre esta saudade, esta agonia
De não viver a vida fugidia,
De ver fugir desejo, amor, verdade...
-- Mas o Futuro vela... E, fielmente,
Colhe as horas mais belas do Presente
E delas tece a nossa Eternidade!
Anteu
sexta-feira, janeiro 18, 2008
quinta-feira, janeiro 17, 2008
Figuras de estilo - Alberto Ferreira
O ganir dum cão nos fundos agoirentos da noite, entre as hortaliças e os milhos, um estremecimento, uma fuga, uma vaga sensação de nojo, um gosto enjoativo, oriundo dos cheiros bestiais, mesclados de ranço e estearina, ervas secas e odor de mulher mal lavada. É assim o nosso interior medieval, à espera que um arrepio nos levante a espinha...
Deambular ao Lusco-Fusco
quarta-feira, janeiro 16, 2008
terça-feira, janeiro 15, 2008
Antologia Improvável #281 - Saul Dias (5)
TARDES
Tardes de outrora
tão macias, quietas
como nuvens de algodão azul!...
(mas, lá no fundo,
escondendo setas
que me ferem ainda...)
tardes de hoje,
tratai as minhas feridas
com pensos de algodão azul...
Obra Poética
(edição de Luiz Adriano Carlos)
Tardes de outrora
tão macias, quietas
como nuvens de algodão azul!...
(mas, lá no fundo,
escondendo setas
que me ferem ainda...)
tardes de hoje,
tratai as minhas feridas
com pensos de algodão azul...
Obra Poética
(edição de Luiz Adriano Carlos)
domingo, janeiro 13, 2008
sábado, janeiro 12, 2008
Antologia Improvável #280 - José Tolentino Mendonça (4)
O FIO DE UM CABELO
Abandono a casa o horto o lugar à mesa
o casaco de que gostava, sobre o leito dobrado
esta verdade quase banal
que toda a vida fui
Não abro a porta quando batem
(às vezes batiam só por engano)
não avalio o balanço das certezas
o que separa uma forma da outra
sempre me escapou
Ontem começava a clarear
o ar frio que vinha dos campos
julguei-o de passagem e afinal
era um segredo que meu corpo
de uma vez por todas contava
ao meu corpo
Mas quando tombei sobre a terra
perdido como um fio de cabelo
(aqueles que primeiro caem
da cabeça de um rapaz
e por não serem notados
são mais perdidos ainda)
estavas junto de mim
Lançaste ao fogo cidades
afogaste os exércitos
no vermelho mar da sua ira
hipotecaste terras tão preciosas
para estares junto de mim
De Igual para Igual
Abandono a casa o horto o lugar à mesa
o casaco de que gostava, sobre o leito dobrado
esta verdade quase banal
que toda a vida fui
Não abro a porta quando batem
(às vezes batiam só por engano)
não avalio o balanço das certezas
o que separa uma forma da outra
sempre me escapou
Ontem começava a clarear
o ar frio que vinha dos campos
julguei-o de passagem e afinal
era um segredo que meu corpo
de uma vez por todas contava
ao meu corpo
Mas quando tombei sobre a terra
perdido como um fio de cabelo
(aqueles que primeiro caem
da cabeça de um rapaz
e por não serem notados
são mais perdidos ainda)
estavas junto de mim
Lançaste ao fogo cidades
afogaste os exércitos
no vermelho mar da sua ira
hipotecaste terras tão preciosas
para estares junto de mim
De Igual para Igual
sexta-feira, janeiro 11, 2008
quinta-feira, janeiro 10, 2008
Viva Chávez (pelo menos por hoje)!
Não me importa agora o que de calculismo político e limpeza de imagem -- após a humilhação que lhe foi infligida por Juan Carlos e o desaire no referendo -- possam, eventualmente, ser a razão desta felicíssima iniciativa. Espero que ele use a sua influência para libertar Ingrid Betancourt e todos os outros reféns, especialmente os americanos. Era bonito.
quarta-feira, janeiro 09, 2008
Figuras de estilo - Ferreira de Castro
Faltava-lhe o ar, como se no quarto o bafo ardente dum forno lhe crestasse a garganta e lhe pusesse murmúrios nos ouvidos. Vestiu-se apressadamente e saiu para o corredor, logo para a saleta desbotada da hospedaria, com o sofá desconjuntado, rota a palha das cadeiras e na parede dois calendários da «Booth Line» -- dois navios empenachados de fumo.
A Selva
terça-feira, janeiro 08, 2008
Antologia Improvável #279 - João Candeias
SENTIDOS
Parou, recolheu a areia entre os dedos
que deixou escorrer como cascata breve.
O horizonte ardia-lhe nos olhos à distância
de focagem dos oásis, quando o sol destila miragens
no desespero do poema.
Ergueu-se, navegou os sentidos pelas dunas
pelos répteis que se refugiavam
nas sombras mínimas da rebentação da luz.
Teve sede, espremeu o cantil.
A última gota de água escorreu-lhe pelo peito
numa estranha agitação de nascente.
Retomou os passos dos negreiros, pensou nos
passos dos negreiros, longas caravanas como
chicotes sinuosos. O passado estalava sobre
os corpos doridos e sedentos. Não sabe
se caiu se o arrastaram delirando.
Agora o poema põe-no sob tamareiras
onde Deus dá guarida aos profetas.
Bebe água fresca de sombra nos riachos.
Come tâmaras maduras. Os beduínos
de bronze encaminham-no à terra
da promissão
Voltei à Casa Pequena
Parou, recolheu a areia entre os dedos
que deixou escorrer como cascata breve.
O horizonte ardia-lhe nos olhos à distância
de focagem dos oásis, quando o sol destila miragens
no desespero do poema.
Ergueu-se, navegou os sentidos pelas dunas
pelos répteis que se refugiavam
nas sombras mínimas da rebentação da luz.
Teve sede, espremeu o cantil.
A última gota de água escorreu-lhe pelo peito
numa estranha agitação de nascente.
Retomou os passos dos negreiros, pensou nos
passos dos negreiros, longas caravanas como
chicotes sinuosos. O passado estalava sobre
os corpos doridos e sedentos. Não sabe
se caiu se o arrastaram delirando.
Agora o poema põe-no sob tamareiras
onde Deus dá guarida aos profetas.
Bebe água fresca de sombra nos riachos.
Come tâmaras maduras. Os beduínos
de bronze encaminham-no à terra
da promissão
Voltei à Casa Pequena
segunda-feira, janeiro 07, 2008
domingo, janeiro 06, 2008
sábado, janeiro 05, 2008
Antologia Improvável #278 - Olga Savary
Figuras de estilo - Carlos Malheiro Dias
Conhecia a corte, o que havia a esperar de um príncipe educado entre frades, em coros de convento e sacristias de igreja, e a quem causava náuseas uma hemorragia de nariz. Vira-o melancólico e doente, acometido de vertigens, com as pernas inchadas, refugiado na câmara a solfejar cantochão ou entretido em conciliábulos de piedade e intriga com o guarda-roupa Lobato. Sem aspirações de rei, medrara nos paços da Bemposta, de Queluz e de Mafra como uma planta frágil, para ser um infante bondoso e inútil. Não o fadara Deus, nessa era de guerra universal, com têmpera aguerrida e rixosa. Em redor dele gravitava uma nobreza ambiciosa e intrigante, esgotadora do erário, exasperada de predomínio, absorvendo todos os cargos lucrativos e decidida a sacrificar o regente à sua gula de poder e de oiro. Os políticos eram criaturas omnipotentes e despóticas, formalistas e néscias, ocupadas em construir fortunas pessoais e a drenar o tesoiro em proveito das famílias. Nenhum grande vulto dominava os conselhos da coroa. Portugal podia ser dizimado. Os ministros encolhiam os ombros. Os seus latrocínios igualavam a sua indiferença.
Caricatura de Arnaldo Ressano
sexta-feira, janeiro 04, 2008
quinta-feira, janeiro 03, 2008
quarta-feira, janeiro 02, 2008
Antologia Improvável #277 - Manuel de Freitas (4)
GOULD, 1981
Deixo-vos isto
em morte.
Dedos como nunca mais,
o que demasiado sabemos
-- por falta de saber,
por nada.
Mostrei, com extremo vagar,
o inventor de Deus,
um homem como eu.
Não, não é bem assim.
Não há homens como eu.
Prefiro a noite
de que sou feito
e fujo.
Canadiano, morto,
quase posso jurar que existi.
Büchlein für Johann Sebastian Bach
terça-feira, janeiro 01, 2008
Caracteres móveis - O. Henry
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