Descemos as escadas de caracol, de aço, para as estantes da minha biblioteca, e eu procurei um grande livro de reproduções de Velázquez. Sentámo-nos ao lado um do outro e eu fui passando as páginas durante quinze minutos, um estimulante quarto de hora em que ambos aprendemos alguma coisa -- ela, pela primeira vez, acerca de Velázquez, e eu, de novo, acerca da deliciosa imbecilidade da luxúria. Tanta conversa! Mostro-lhe Kafka, Velázquez... porque fazemos estas coisas? Bem, temos de fazer alguma coisa. Estes são os véus da dança. Não confundir com sedução. Aquilo que estamos a disfarçar é o que nos levou ali: pura luxúria. Os véus velam o ímpeto cego.
O Animal Moribundo
(tradução de Fernanda Pinto Rodrigues)
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