Lembrou-se da impressão que fizera sobre ele a catástrofe do ano de 1866, e chamou à memória as sensações indizivelmente tormentosas que então o haviam empolgado. Perdera grande quantidade de dinheiro... ah, isso não fora o mais insuportável! Mas pela primeira vez tivera de experimentar em toda a sua extensão e no próprio corpo, a brutalidade cruel da vida comercial, onde todos os sentimentos bondosos, suaves e amáveis desaparecem perante o único instinto rude, cru e impiedoso da conservação e onde uma desgraça sofrida não provoca participação e compaixão entre os amigos, os mais íntimos amigos, mas sim desconfiança, apenas desconfiança fria e negativa. E ele não o sabia? Que direito tinha de admirar-se destas coisas? Mais tarde, em horas melhores, de maior energia, quanto não se envergonhara de, naquelas noites de insónia, se haver revoltado, rebelando-se, cheio de nojo, e mortalmente ferido, contra a dureza feia e descarada da vida!
Os Buddenbrook
(tradução de Herbért Caro)
retrato por Johannes Lindner
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