Triste de mim mais triste que a tristeza
triste como a mão que segura o copo
como a luz do farol esgarçando a névoa
triste como o cão manco
deixado na serra pelos caçadores
triste como a sopa entretanto azeda
mais triste que a idiotia congénita
ou que a palavra ampola
triste de mim triste e perdido
entre duas ruas
uma que vai para o Norte outra para o Sul
e ambas cortadas aos peões
que não cooperam devidamente
(com este governo de merda é claro)
triste como uma puta alentejana
num bar de Ourense
que me viu à cerveja e lesta
me chamou compadre
vozes que a gente colecciona
a tarde triste os anos tristes
a grande costura da tristeza
do esterno ao baixo ventre
triste e já sem nenhum reparo
a fazer à metafísica
senão que é um défice
porventura
do córtex cerebral
Lisboa
3/18-VII-91, 20/21-XI-91, 22-I-92
Respiração Assistida
(foto: Luísa Ferreira)
Sem comentários:
Enviar um comentário