segunda-feira, abril 07, 2008

Antologia Improvável #298 - Francisco Costa (3)



Juntei o pó que as horas no meu seio
deixaram; e depois, com o suor da face
e as lágrimas dos olhos, amassei-o
até que em barro mole se tornasse.

E entre acessos de júbilo e receio,
dei-lhe forma, tentei que se animasse
nos meus dedos viris; -- e bafejei-o
p'ra que o meu fogo interno o calcinasse.

Depois expu-lo à turba. E nesse instante
vi-o baço e minúsculo e imperfeito
sob outra luz, mais crua e penetrante.

Acalmei a vaidade. E agora sei
que, muito antes de em pó eu ser desfeito,
se desfará o pó que eu amassei.


Verbo Austero

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