Hoje, no Público, José Pacheco Pereira pronuncia-se a favor da adesão da Turquia à União Europeia, com um argumento geo-político essencial: «A Turquia não é um pequeno país, é uma potência regional, com uma área de influência que se estende das repúblicas asiáticas à China. E, para além disso, entra para a UE um dos poucos exércitos credíveis existentes na Europa. [...] Para a estabilidade da Europa, precisamos da Turquia e da Turquia do nosso lado.»
A herança cultural turca é enorme, nomedamente nos Balcãs; os turcos (etnia proveniente das estepes asiáticas, como os húngaros e os finlandeses) são Europa e estão na Europa há séculos, fazendo tanto sentido a sua adesão como a dos romenos e búlgaros, agora à soleira da porta.
É duma Turquia laica que falo, duma Turquia integralmente respeitadora da liberdade dos seus cidadãos, incluindo da dos curdos, uma Turquia que respeita a integridade de Chipre, uma Turquia que reconheça o seu passado para o bem e para o mal, como o tem de fazer relativamente à Questão Arménia. É uma Turquia de cidadãos europeus, em Istambul, em Ancara, em Esmirna, cuja modernidade não perde em confronto com a de muitas regiões da União Europeia. É evidente que há problemas, há atavismos seculares, há primitivismo, como existe entre nós meia dúzia de quilómetros andados para lá de Lisboa ou do Porto.
Finalmente, durante séculos, o Império Otomano serviu de refúgio aos perseguidos religiosos, designadamente aos judeus, aos judeus portugueses, convém lembrar. Por isso, nestes tempos difíceis de fanatismo religioso, de terrorismo em nome da religião, há que estender a mão a um país de grande dimensão e dignidade que anseia (tal como nós ansiámos) por estar na Europa democrática, livre e laica a que pertence por direito.
6 comentários:
Essa Turquia é a que não existe, meu Caro. E a sua presença europeia foi sempre vista como a grande ameaça até ao segundo cerco de Viena, bem como excrescências de eliminação gradual, a partir daí.
Os factos são factos: ganha um partido islâmico que só põe à frente um primeiro-ministro mais cordato para que os militares não lhe tratem da saúde. Estes são os únicos turcos que podiam cá entrar.
E vai lá perguntar àquele eleitorado o que gostaria de fazer aos judeus hoje, ou à História, acerca dos empalamentos em série e da Arménia, cujo genocídio é crime afirmar por aquelas bandas...
Caríssimo: acho que existe essa Turquia e também a outra.
Essa fase histórica está ultrapassada: há muito que a Turquia deixou de ser inimigo para passar a aliado.
Percebo o risco do partido islâmico, contido pelos militares (até quando?), mas claramente sem condições para extravasar para um sistema confessional dentro do quadro da União.
Enfim, quanto ao eleitorado, ele está longe de ser homogéneo, como tu o pintas. A Turquia, além disso, é um dos poucos países (creio que é mesmo o único) de população maioritariamente muçulmana aliados de Israel. A questão arménia, já falei dela; os empalamentos em série: ora, também nós jogávamos à bola com as cabeças dos guerrilheiros africanos, e nem por isso ficámos à porta da então CEE...
Dos guerrilheiros. E excepcionalmente, à revelia da norma.
Os turcos nãio precisavam de manifestações de vontade contrária e era essa a norma.
Não digo que hoje sejam assim. Digo que não se pode invocar a História para os meter cá, porque o passado europeu deles sempre repugnou a todos.
Nunca falei em eleitorado homogénio, mas maioritário. A menos que acabem com a Democracia, o que aplaudiria, são eles que mandam.
Mas hoje falarei sobre o tema.
Abraço.
A repugnância era relativa e quando convinha, como sucede sempre. Mas há o presente europeu deles, que se reflecte também noutros países como a Bósnia-Herzegovina.
Com todas as reservas que possam exisitir, o meu ponto é o de que é melhor a Turquia dentro que fora da UE. O argumento histórico faz todo o sentido se falarmos na Turquia contemporânea, a que é nossa aliada na Nato. O que não me parece fazer sentido é invocar o cerco de Viena no século XVII.
Sobre a questão religiosa, que está sempre presente: já cá temos mesquitas para nos preocuparmos, em Paris e em Londres; não me parece que a adesão fosse aumentar uma suposta infiltração de radicalismo islâmico. Abraço.
Eu não invoquei o cerco de Viena como razão, apenas como separação entre o fim do avanço e o princípio do ininterrupto recuo que, espera-se, continue.
Abraço.
E, para além do que já escrevi, não vejo vantagem nenhuma em a UE passar a ter fronteiras com a guerra em curso no Iraque, nem em ter um conflito irredentista curdo no seu seio. Abraço.
Esperemos para ver o que se vai passar, e como se passará. Abraço.
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