JANEIRO 74
toda a noite eu podia ouvir os comboios
e sabia que as grandes fomes estavam a chegar.
todas as palavras eram já estranhas
e era tempo de partir --
uma extrema solidão marcava a minha vida.
nunca fora tão insuportável a tua morte
nem tão longínquos os pequenos barcos do rio.
as minhas mãos cheiram fortemente a tabaco.
frenéticas e magras
dir-se-iam que esperam o teu regresso ou o sol
ou a tua cabeça serena.
nada poderá valer-nos.
tarda a Imensa Revolução
e os belos pensamentos ardem em nossas cabeças
afinal tão infantis.
em 1974 eu podia ouvir os comboios toda a noite.
da janela aberta de um 4.º andar suburbano
sob um céu pardo de inverno
eu avançava possuído de terror na minha insónia.
abandonara os poemas e as comovedoras histórias da Galileia.
por vezes bebia demasiado
dava longos passeios e gostava de futebol.
toda a noite eu ouvia os comboios seguirem para o norte e
para o sul
e sabia que as grandes fomes estavam a chegar.
Deste Lado Onde
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