RETRATO DE DOM SEBASTIÃO
Ruíram portas. Os velhos muros desmoronaram.
A lua de agosto, temível artesanato de um gnomo astuto
esperava a surpresa das vítimas. E a própria
palavra da língua fez ouvir gritos desentoados
vindos da noite dos tempos. O verão desse ano,
máscara disforme, envergonhada. E o rei,
um rapaz, o reino ameaçava como se faz às crianças
que não querem adormecer.
Os olhos azuis, pisados, desaguam em fantasias.
Sofriam, no severo conjuro adolescente, o juízo
que Platão verteu sobre os efeitos malignos da
arte, da ilusão que causa na lama humana. Havia
sonho, imagem e fazenda a destruir nos afilados dedos
que traziam morte, filme de gelo sobre o derradeiro
verão dos rios da cidade, ó castelos
e o lebréu, fiel, o mais fiel dos súbditos,
dispõe-se a recolher o afundamento
de corpos, barcas e pátria.
E do rapaz, de dezasseis anos ao tempo do retrato,
areia de silêncio envolveu seus ossos. Inquietude,
ânimo, valor ferido.
Museu das Janelas Verdes / A Pequena Pátria
sábado, fevereiro 18, 2006
Antologia Improvável #104 - João Miguel Fernandes Jorge
Etiquetas:
D. Sebastião,
João Miguel Fernandes Jorge
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