Os homens esfaqueados nas costas eram bonitos, morriam com dignidade, aguentando-se bem. Não gritavam por ajuda nem rebentavam em lágrimas, mas cerravam os dentes e mordiam os seus bigodes negros. A morte adora os homens e os homens adoram a morte, ou deveriam fazê-lo. Torna-os mais homens do que os que estão vivos, com os rostos mais brancos, o cabelo mais negro e os corpos mais pesados. Na verdade, é uma pena estarem mortos.
Fome de Cão
(tradução, a partir do inglês, de Sílvia Sacadura)
3 comentários:
que estranho, ao ler este texto (fabuloso como já é costume) lembrei-me da poesia do alexandre nave.
Obrigado, Lebre. Não é nada estranho. Fui pesquisar sobre o Alexandre Nave, que não conheço, e encontrei as melhores referências precisamente no teu blogue. E há, realmente, naquele poema do funeral um ponto de contacto. O livro é excelente e pesado, evocando, pelo ambiente concentracionário, A Selva, do Ferreira de Castro, embora as acções decorram nos antípodas uma da outra.
o livro do alexandre nave é excelente, doloroso e acima de tudo muito belo
Enviar um comentário