segunda-feira, junho 26, 2023

simulacros & outros caracteres móveis

«Nestas curvas das estradas sorri sempre de longe ao viajante. cansado e aborrecido, que pela primeira vez as trilha, uma prometedora esperança.» Júlio DinisA Morgadinha dos Canaviais (1868)

«Mas para o meu Jacinto, desde que assim me arrancavam da Cidade, eu era arbusto desarreigado que não reviverá. A mágoa com que me acompanhou ao comboio, conviria excelentemente ao meu funeral. E quando fechou sobre mim a portinhola, gravemente, supremamente, como se cerra uma grade de sepultura, eu quase solucei -- com saudades minhas.» Eça de QueirósA Cidade e as Serras (póst., 1901)

«A vila é um simulacro. Melhor: a vida é um simulacro.» Raul Brandão, Húmus (1917)

«-- Eu tinha pensado... É que está aí um seringueiro -- o Balbino, aquele que anda sempre com um charuto na boca -- que foi ao Ceará buscar pessoal para o rio Madeira. Mas, ontem, fugiram-lhe três homens... Ora, eu pensei... Sim, talvez falando com ele, tu pudesses...» Ferreira de Castro, A Selva (1930)

«Ele rebolou os olhos num semblante de agonia, bateu furiosamente umas quantas vezes com o cajado contra os bancos do apeadeiro, e ao ver como aumentava o meu medo rebolou-se de gozo pelo chão.» J. Rentes de CarvalhoA Amante Holandesa (2003)

2 comentários:

Manuel M Pinto disse...

«Vi-me ao espelho e fiquei horrorizado. Tinha nevado na minha cabeça. Se não estava velho, tinha ar disso. Bem certo que sentia em mim viva e florescente uma coisa que se não vê, a alma. Todavia não era a alma que eu lhe mostrava, mas o físico, a carcaça. Depois que ao gavião cai a pena, adeus "élan". Perde-se garbo e confiança. Embora, iria.»
Aquilino Ribeiro, "Quando ao Gavião Cai a Pena" (1935).

R. disse...

Esplêndido.