«E, aqui na intimidade inviolável deste canhenho, confesso que admirei o homem vigilante que saíra ao meu encontro com tanta afabilidade, oferecendo-se para conduzir-me à casa. Calculei que toda a gente devia estar enfronhada no morno leito, gozando a delícia incomparável do sono, nessa noite fresca e de chuva. Além, nesse eremitério onde repousa o meu umbigo, às dez horas, a não ser em casa de Mariano Gomes, onde se carteia impudentemente o lansquenet, com pequenos intervalos de maledicência e gole, toda a povoação, beatamente ceada e rezada, dorme. De longe em longe, uma luzinha treme, traçando no pó soalheiro dos caminhos uma risca luminosa -- é algum jogador, que se recolhe despojado e trôpego, ou o santíssimo padre Coriolano, que anda a correr o aprisco, a ver se alguma ovelha bale, roída pelo arrependimento do pecado, que é uma chaga terrível que a gente cura com as drogas da filosofia ou com a boa e sadia campónia, que, mais do que os santos, sabe levar os seus eleitos ao Paraíso, por um caminho bem diferente desse que a igreja conspícua e autera manda que se trilhe -- ninguém mais.» A Capital Federal (1893)
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