segunda-feira, dezembro 31, 2018

vozes da biblioteca

«Acuso-me também de ter rompido, com muitos outros, os nevoeiros premeditados, os abismos reais e os abismos ilusórios, que são ainda mais perigosos, as cadeias, as ameaças e os sortilégios do cercado em que conviria permanecermos ainda mais uns séculos, para glória e proveitos dos nossos amos, que dispuseram de poderes suficientes para mandarem decapitar todos os seus servos, sem qualquer coima ou embargo, e não o ordenarem pelo simples facto de não poderem passar sem eles.» Alves Redol, Barranco de Cegos (1961)

«Na segunda quarta-feira de Setembro de mil novecentos e setenta e cinco, o despertador pescou-me às oito horas do meu sono, do mesmo modo que as gruas do cais trazem à superfície os automóveis peludos de limos que não sabem nadar.» António Lobo Antunes, Autos dos Danados (1985)

«Num coberto por detrás da casa, frente ao pátio onde tinha crescido uma nogueira gigante, um velho derreado, numa das últimas posturas que antecedem a morte, olhou-me com o sorriso habitual dos subalternos.» Agustina Bessa Luís, Antes do Degelo (2004) 

música para salvar o ano: #17, e última: «We Were Beautiful» (Belle and Sebastian)

sábado, dezembro 29, 2018

vozes da biblioteca

«Por um brinde ao amor passado, / Ficou de pranto alagado / O vestido de noivado / Da rainha de Kachmir.» Gomes Leal, [«A Rainha de Kachmir»], in Herberto Helder, Edoi Lelia Doura -- Antologia das Vozes Comunicantes da Poesia Moderna Portuguesa (1985)

«Qual o instante / em que o verão se transforma no outono / se o arrepio da noite quando chega / parece ainda um luminoso dia?» Fernando Pinto do Amaral, «Naufrágio», A Luz da Madrugada (2007)

«Quando chegava o mês de Maio, eu abria a janela e ficava bêbado desse cheiro a fogueiras, carroças e ciganos.» Manuel Alegre, «Rosas vermelhas», Praça da Canção (1965)

música para salvar o ano #15 - «Suspirium» (Thom Yorke)

sexta-feira, dezembro 28, 2018

estampa CCCXLVI - Yuliang Pan


Nu Sentado Segurando um Espelho (1956)

música para salvar o ano: #14 «Strands» (Jakob Bro)

vozes da biblioteca

«Assim vamos de todo o nosso vagar contemplando este majestoso e pitoresco anfiteatro de Lisboa oriental, que é, vista de fora, a mais bela e mais grandiosa parte da cidade, a mais característica, e onde, aqui e ali, algumas raras feições se percebem, ou mais exactamente se adivinham, da nossa velha e boa Lisboa das crónicas.» Almeida Garrett, Viagens na Minha Terra (1846)

«Com os prenúncios de Outono, as primeiras chuvas encheram de frémitos o lodaçal negro dos esteiros, e o vento agreste abriu buracos nos trapos dos garotos, num arrepio de águas e de corpos.» Soeiro Pereira Gomes, Esteiros (1941)

«Nestes corações, onde reinavam afectos ao mesmo tempo ardentes e profundos, porque neles a índole meridional se misturava com o carácter tenaz dos povos do norte, a moral evangélica revestia esses afectos de uma poesia divina, e a civilização ornava-os de uma expressão suave, que lhes realçava a poesia.» Alexandre Herculano, Eurico o Presbítero (1844)

quinta-feira, dezembro 27, 2018

quarta-feira, dezembro 26, 2018

estampa CCCXLV - Pablo Picasso


Ángel Fernández de Soto com Mulher (1903)

música para salvar o ano - #13 «Right Now» (Dirty Projectors)

vozes da biblioteca

«Chamo-o docemente: "Platero", e ele vem até mim com um trote curto e alegre que parece rir em não sei que guizalhar ideal...» Juan Ramón Jiménez, Platero e Eu (1914) (tradução de José Bento)

«No dia em que iam matá-lo, Santiago Nasar levantou-se às 5.30 da manhã para esperar o barco em que chegava o bispo.» Gabriel García Márquez, Crónica de uma Morte Anunciada (1981) (tradução de Fernando Assis Pacheco)

«O relógio de pêndulo, esse, que balançava na sua caixa de vidro luxuosamente esculpida em madeira, e, no seu balanceiro de cobre amarelo, cortava em bocadinhos o dia que parecia interminável, mostrava a hora: meio-dia e trinta minutos.» Deszö Kosztolányi, Cotovia (1924) (tradução de Ernesto Rodrigues)

segunda-feira, dezembro 24, 2018

Feliz Natal!

Marge

«I Believe In Father Christmas»

é Natal

Winsor McCay, Little Nemo in Slumberland (Natal de 1908)

vozes da biblioteca

«Contra a parede negra da lareira, a meio da frouxa claridade, a curva das costas de Júlia, muito magras, aumenta mais o seu ar de desalento.» Manuel da Fonseca, Seara de Vento (1958)

«Germana, sua prima, era, por seu lado, um tipo fatídico das degenerescências, o artista, o produto mais gratuito da natureza e que se pode definir como uma inutilidade imediata.» Agustina Bessa Luís, A Sibila (1954)

«Pele morena, olho aveludado, tipo insinuante de marnoto, camisolita de xadrez azul e preto, calça branca muito justa, , à frente uma grande cesta vestida de oleado, em cujo interior destacavam duma alvura de toalha várias gulodices.» Abel Botelho, O Barão de Lavos (1891)

sábado, dezembro 22, 2018

é Natal


Krazy Kat, de George Herriman

música para salvar o ano: #10 «One Last Chance» (The Skids»

vozes da biblioteca

«Ao crítico, a esse homem que tem por missão recriar, interpretar, arrancar dos limbos da obscuridade a obra do artista para a fazer passar através duma luz verdadeira, nada do que é humano lhe pode ser alheio.» Manuel Antunes, «Críticos e autores. Simples reflexões» (1952), Legómena (1985, póst.)

«Não me recordo se li em qualquer parte, ou se fui eu que construí, casualmente, esta frase, que me parece certa: O jornalismo é a ciência da superficialidade.» Julião Quintinha, Imagens de Actualidade (1933)

«Ninguém me pode impedir de ter conhecido a Poesia, embora com abuso e violência.» Vitorino Nemésio, do «Prefácio» a Conhecimento de Poesia (1958) 

sexta-feira, dezembro 21, 2018

música para salvar o ano: #9 «Night Visiting Song» (Josie Duncan & Pablo Lafuente)

vozes da biblioteca

«As virtudes civis e, sobretudo, o amor da pátria tinham nascido para os Godos logo que, assentando o seu domínio nas Espanhas, possuíram de pais a filhos o campo agricultado, o lar doméstico, o templo da oração e o cemitério do repouso e da saudade.» Alexandre Herculano, Eurico o Presbítero (1844)

«ficámos um instante a perscrutar o exterior como se quiséssemos que enfim desabasse aquele céu pesado, mas não aconteceu nada.» Valter Hugo Mãe, A Máquina de Fazer Espanhóis (2010)

«Vou ser rainha dum minúsculo reino, de um reino de bonecas, frívolo e perfumado, mas no qual as minhas ordens serão sempre cumpridas e os meus desejos respeitados.» Diana de Liz, Memórias de uma Mulher da Época (póst., 1932)

quinta-feira, dezembro 20, 2018

é para acabar com o Aborto Ortográfico a manif de amanhã?

Contem comigo!
E, já agora, contra a porcaria da série canadiana que passa no segundo canal. Suspensão imediata. Vamos parar com tudo, pá!...
E o Pacto de Estabilidade e Crescimento, entra nas cogitações?


actualização: Vim no carro a ouvir a TSF. Não me lembro de me ter rido tanto em viagem matinal, à custa destes tontinhos.
Por falar em tontinhos: o pseudojornalismo tabloide que andou a alimentar isto enterrou-se mais uma vez; nada que os incomode, rapidamente passarão a outra coisa qualquer. Atrasos de vida, estão bem uns para os outros.

música para salvar o ano: #8 «Love Is Here To Stay» (Tony Bennett & Diana Krall)

é Natal

Hergé

quarta-feira, dezembro 19, 2018

música para salvar o ano: #7 ÍNDIOS DA MEIA PRAIA (Davide Zaccaria, Maria Anadon & João Afonso)

salvar a democracia do coma em que se encontra ou a cuspidela de Manso Neto na cara de um sistema moribundo


Se na altura, a doença era visível, hoje os miasmas que dela emanam são pestíferos e letais. O melhor exemplo da captura da sociedade portuguesa e do Estado pelos interesses particulares e ilegítimos nem é o do alegado falhanço no caso do helicóptero do INEM ou da estrada de Borba, se bem que no que respeita à resposta aos mega-incêndios de 2017, entre sirespes e boys colocados em lugares de comando, aí a nódoa já tinge e atinge os partidos do sistema de então, em especial PS e PSD.

Um exemplo da bandalheira a que o Estado foi reduzido é a revelação de Manso Neto, da EDP, ontem no Parlamento: a EDP faz propostas legislativas no seu próprio interesse, e apresenta-as aos governos, que teoricamente têm a palavra final. Nada de que não desconfiássemos, intuíssemos ou, nalguns casos, soubéssemos. No entanto, a declaração do gestor resultou, na prática, numa cuspidela em cheio na cara do sistema.

Não precisamos de chegar à corrupção, à satisfação de interesses ilegítimos ou outras malformações de que padece o sistema. A primeira causa para esta ignomínia, para esta vergonha que faz corar qualquer democrata, é a ideologia propalada pelos partidos que representam a larga confederação de interesses que domina o país, representados pelas organizações do outrora arco da governação, com o PS, mesmo quando não capturado pelos tais interesses, a fazer o papel de idiota útil ao seu serviço, com a pseudoideologia do estado mínimo, e que mais não foi do que o escancarar das portas à rapacidade das companhias apostadas no parasitismo -- mesmo que, sem vergonha, propalem os seus corifeus, generosamente avençados, para os malefícios do sector público. Ainda agora, a propósito da Lei de Bases da Saúde, António Costa, o muito prudente, terá resolvido pôr nos eixos a nova ministra Marta Temido, que parecia estar a tornar-se demasiado saliente.

O Estado tem cada vez menos massa crítica. Os que pensam pela sua cabeça, os incómodos, são colocados nas prateleiras, sempre foi assim. No entanto, o seu emagrecimento, a não-renovação dos quadros, a falta de uma meritocracia para o qual contribuíram a um tempo, embora com peso diverso, um sindicalismo boçal e nivelador por baixo e a captura dos departamentos pelos profissionais da política emanados das juventudes partidárias & equivalente, faz com que os serviços não tenham capacidade, por ausência de quadros ou de condições, para responder aos desafios complexos que lhe são colocados. Daí o triunfo, há muito denunciado, dos escritórios de advogados a fazer as vezes dos inexistentes ou irrelevantes gabinetes jurídicos dos vários departamentos ministeriais. Que admiração, pois, que um governo -- neste caso o de Sócrates, mas a prática já vem muito de trás -- peça à EDP que legisle em causa própria? Tudo foi feito, em muitos casos conscientemente, para que chegássemos a este ponto.

O estado a que isto chegou, dizia o nobilíssimo Salgueiro Maia, a propósito do impasse e do apodrecimento da vida política portuguesa em 25 de Abril de 1974, Claro que a resposta construtiva nunca virá dos macacos de imitação e outros animais do Facebook, com a palermice em segunda mão dos coletes amarelos. Receio, no entanto, que o sistema já não esteja reformável, e que só encostado à parede ensaie uma regeneração -- o que não é crível.  E nessa contingência, a mudança poderá inflectir para aspectos que repugnam a quem pretenda uma sociedade livre e mais justa.

É cada vez mais necessária uma refundação democrática, uma IV República, que revisse e alterasse radicalmente as formas de representação e funcionamento do Estado. É claro que tal não vai acontecer, nem há condições para uma reforma pensada do sistema, por várias razões:  da fraqueza das lideranças (Rui Rio, pela sua honestidade e frontalidade é uma excepção, infelizmente num partido irreformável, pela sua natureza de federação de pequenos e grandes interesses; o PCP é outra coisa, em que reside o melhor e o pior da democracia portuguesa); ou a implicação profunda no actual estado de coisas (PS, o PSD tradicional, CDS), ou ainda a franca inconsistência, e por isso desimportância, como o Bloco.

terça-feira, dezembro 18, 2018

música para salvar o ano: #6 «I Don’t Know» (Paul McCartney)

vozes da biblioteca

«Encheu de pranto o vestido, / Encheu de pranto os anéis... / E, sem soltar um gemido, / Chorou, num pranto sumido, / O seu passado perdido, / Os seus amores tão fiéis!...» Gomes Leal, «[A rainha de Kachmir], in Herberto Helder, Edoi Lelia Doura -- Antologia das Vozes Comunicantes da Poesia Moderna Portuguesa (1985)

«Nesse tempo o Sol nascia exactamente no meu quarto.» Manuel Alegre, «Rosas vermelhas», Praça da Canção (1965)

«"Quase e só quase, é a nossa condição -- quase outros somos não o sendo, e quase como nós o foram outros, e sempre nós e outrem, outrem e nós, nos fomos contando pela vida os números impossíveis de contar.» Pedro Alvim, «Quase», Os Jogadores de Xadrez (1986)


domingo, dezembro 16, 2018

música para salvar o ano #4 - CULPADA (Ala dos Namorados)

é Natal

 Chester Gould, Dick Tracy - Natal de 1942

música para salvar o ano - #3 BOCA DE SAL (Linda Martini)

vozes da biblioteca

«E história assim poderá ouvi-la a olhos enxutos a mulher, a criatura mais bem formada das branduras da piedade, a que por vezes traz consigo do céu um reflexo da divina misericórdia: essa, a minha leitora, a carinhosa amiga de todos os infelizes, não choraria se lhe dissessem  que o pobre moço perdera honra, reabilitação, pátria, liberdade, irmãs, mãe, vida, tudo, por amor da primeira mulher que o despertou do seu dormir de inocentes desejos?!» Camilo Castelo Branco, Amor de Perdição (1862)

«Era uma ideia vaga; mais desejo que tenção, que eu tinha há muito de ir conhecer as ricas várzeas desse Ribatejo, e saudar em seu alto cume a mais histórica e monumental das nossas vilas.» Almeida Garrett, Viagens na Minha Terra (1846)

«Mesmo na Transilvânia, com a densa obscuridade que projectam os cedros no espaço vegetal, , não se trata apenas de um aglomerado de árvores; há um acordo entre o sentimento humano e aquela formação botânica de raízes e ramos.» Agustina Bessa Luís, Os Meninos de Ouro (1983)

sábado, dezembro 15, 2018

música para salvar o ano #2 AO SOL DA MANHÃ (FLAK)

gavetas & gavetinhas (corrigido)

Tive sempre a mania das listas, das classificações, das compartimentações, etc. Lembrei-me agora de arranjar um bolgue para as músicas de que em cada ano mais gostei em cada ano, desde 2013, com a excepção não sei por que diabo de 2014, e está aqui.  Boas audições.
(Afinal também há 2014, esqueci-me de pôr a etiqueta...)

música para salvar o ano #1 A HAPPY THOUGHT (Kurt Elling)

sexta-feira, dezembro 14, 2018

vozes da biblioteca

«Com a entrada de Dean Moriarty começou a parte da minha existência a que posso chamar a minha vida pela estrada fora.» Jack Kerouac, Pela Estrada Fora (1953) (tradução de H. Santos Carvalho)

«Do telhado, uns bútios olharam-no com indiferença mesquinha: não era ainda carniça.», Graham Greene, O Poder e a Glória (1940) (tradução de António Gonçalves Rodrigues)

«É uma aldeola completamente escondida no coração da taiga, nessas selvas virgens e hiperbóreas do governo de Iakutsk.» Vladimir Korolenko, O Sonho de Macar (1885) (tradução anónima)

quarta-feira, dezembro 12, 2018

estampa CCCXLIII - Georgia O'Keeffe


vozes da biblioteca

«Ando no caminho da bela aventura, da sensação nova e feliz, como um cavaleiro andante.» Branquinho da Fonseca, O Barão (1942)

«Jorge enrolou um cigarro, e muito repousado, muito fresco na sua camisa de chita, sem colete, o jaquetão de flanela azul aberto, os olhos no tecto, pôs-se a pensar na sua jornada ao Alentejo.» Eça de Queirós, O Primo Basílio (1878)

«Só vozes ermas nos campos, ouço-as no calor parado da tarde.» Vergílio Ferreira, Para Sempre (1983)

terça-feira, dezembro 11, 2018

«Jumping From Love To Love»

Denis Mukwege e Nadia Murad


Isto sim, é verdadeiramente importante e tem um significado real. Uma activista que não se resignou ao tratamento infra-humano que uns animais de forma humana lhe aplicaram, criminosos reles que falam de Alá; e um homem que dedica a vida a minorar o sofrimento das suas concidadãs, vítimas de toda a soma de bestialidades, da cupidez â dominação cruel. Existe mal no mundo, sendo o mais poderoso e destrutivo o que não o tem estampado na cara, mas se mascara com frases bonitas, fato e gravata ou perfumes caros. São pessoas como Denis Mukwege e Nadia Murad que dão sentido à existência e mostram o vazio de noventa por cento do palavreado com que ocupamos o espaço público.  

segunda-feira, dezembro 10, 2018

vozes da biblioteca

«Porque ninguém ignora que os escritores, os artistas, os homens públicos, verdadeiros sinistrados da notoriedade, são permanentemente vítimas de malfeitores de vária natureza, conscientes ou inconscientes, que, com prodigiosa facilidade, mentem, fantasiam, deturpam, falsificam entrevistas, forjam trechos apócrifos, inventam biografias fraudulentas, tratam o nome, a dignidade, a personalidade dos homens em evidência como se fosse roupa-de-franceses.» Júlio Dantas, Páginas de Memórias (póst., 1968)

«Sofri demais para poder mentir.» Jaime Cortesão, Memórias da Grande Guerra (1919)

«Volto as gavetas sobre a minha mesa de trabalho, como se nela virasse o açafate doméstico, contendo apenas migalhas dos dias vividos, de que se aproveitam somente as aspirações e os sonhos.» Ferreira de Castro, do «Pórtico» de Os Fragmentos (póst., 1974).

domingo, dezembro 09, 2018

12 sinfonias: 7. Brahms, SINFONIA #1 (1876) - #4 Adagio - Più andante - Allegro non troppo, ma con brio - Più allegro

olha...


é só para avisar, ou 
eu que não tenho paciência, nem rabo, nem idade para me dizerem como me devo comportar, o que devo dizer, do que devo gostar, sejam asnais-fascistas ou eunuco-progressistas, a todos sugerindo que se vão foder, ou
agora é que este blogue vai passar a ser inseguro -- não pelas magníficas mãos e coxas que vão junto, mas pelas imagens muita sexistas que me darão na gana, quando estiver para aí virado, que é quase sempre, ou
e muito singelamente, 
imagens que me fazem tesão

quanto ao resto, é esperar que os coletes amarelos escaqueirem o CAC40


quinta-feira, dezembro 06, 2018

criadores & criatura

imagem

René Goscinny, Jean Tabary e Iznogoud

imagem

quarta-feira, dezembro 05, 2018

vozes da biblioteca

«A felicidade é uma resultante directa dos nossos sentimentos, da nossa tranquilidade, da satisfação plena de praticarmos o bem, -- portanto não existe.» Assis Esperança, Viver! (1921)

«E de cada vez que o moço interpelado se afastava, aborrecido ou indiferente, este noctívago caçador de efebos lá seguia em cata de outro, cortando os grupos, atravessando a rua, numa incoerência de vertigem, não se sabia bem se tiranizado por um vício secreto, se esmagado por uma feroz melancolia.» Abel Botelho, O Barão de Lavos (1891)

«Nesta casa enorme e deserta, nesta noite ofegante, neste silêncio de estalactites, a lua sabe a minha voz primordial.» Vergílio Ferreira, Aparição (1959)

«Little Child Running Wild»

segunda-feira, dezembro 03, 2018

50 discos: 29. POWER IN THE DARKNESS (1978) - #6 «2-4-6-8 Motorway»



os livros de Novembro

A Modernidade -- Um Projecto Inacabado, Jürgen Habermas (1981)
Belém do Pará (1616-2016), VV. AA. (2016)
Germinal, Émile Zola (1885)
Maria Lamas, Mulher de Causas, José Gabriel Pereira Bastos (2017)
Maus -- A História de um Sobrevivente, Art Spiegelman (1973)
Maus -- II Assim Começaram os Meus Problemas (1986)
O Amante Japonês, Armando Silva Carvalho (2008)
O Mundo às Avessas -- O Manicómio Contemporâneo, João Maurício Brás (2018)
Para Chegar a uma Estrela, Vergílio Alberto Vieira (2005)
Um Passado Imprevisível, Ernesto Rodrigues (2018)
Um Projecto Libertário, Sereno e Racional, João Freire (2018)

domingo, dezembro 02, 2018

vozes da biblioteca

«Foi isto ontem à noite, / este esplendor no escuro e antes de dormir» Ana Luísa Amaral, «Das mais puras memórias: ou de lumes», Escuro (2014)

«Lá fora // -- um frio só / de rua fria.» Pedro Alvim, «Dia 1», A Esfera dos Dias (1985)

«Pegou no copo, com graça, / E brindou, em língua estranha...» Gomes Leal [A Rainha de Kachmir], in Herberto Helder, Edoi Lelia Doura -- Antologia das Vozes Comunicantes da Poesia Moderna Portuguesa (1985)

12 sinfonias: 6. Bruckner, Sinfonia #4 (1874) - IV. Finale. Bewegt, doch nicht zu schnell

estampa CCCXLII - Karl Nordström


A Noiva do Artista (1885)

sábado, dezembro 01, 2018

quinta-feira, novembro 29, 2018

50 discos: 23. CRIME OF THE CENTURY (1974) - #6 «Rudy»



vozes da biblioteca

«Como sempre que batem à porta daquele seu gabinete de trabalho, eleva muito a voz, a simular a irritação de quem vê as suas tarefas e lucubrações de dirigente intempestivamente interrompidas.» Assis Esperança, Trinta Dinheiros (1958)

«E sob a chuva ininterrupta, sob as cordas incessantes, a vila, envolta na treva glacial, parece lavada em lágrimas...» Raul Brandão, A Farsa (1903)

«Um vaporzito, com graciosidade de gaivota e calentura de forno, largou de ao pé da Kars-en-Nil e, apitando aqui e ali, que o tráfego fluvial era grande em frente da cidade, começou a subir o rio sagrado.» Ferreira de Castro, do «Pórtico» de A Tempestade (1940)

quarta-feira, novembro 28, 2018

estampa CCCXLI - Natalia Gontcharova




Dançarinas Espanholas (1918)



feias, porcas e más: as televisões privadas como retretes públicas, das antigas, ou saudades da RTP do tempo do fascismo

A sic e a tvi são detentoras de uma concessão, por parte do Estado, ou seja, de todos nós, do sinal de emissão do serviço de televisão. Mais de 90% da programação daquelas estações é má ou muito má. A informação da tvi é superior à da sic; esta tem um grande momento aos sábados, ao fim da manhã, com a transmissão dos documentários da BBC sobre vida selvagem. Quanto ao resto, concursos, telenovelas, parvoíces. Mesmo os canais informativos são pobres, salvam-se alguns programas de debate ("Quadratura do Círculo" e "O Eixo do Mal" na sic; "Prova dos Nove" e "Governo Sombra" na tvi). É muito pouco. 
Mas o que me espanta, perante a indiferença geral, é o à-vontade e a impunidade com que ambas as estações generalistas poluem o espaço público com inanidades e badalhoquices, dos talk shows matinais, em que apresentadores idiotas expõem ao voyeurismo mais grosseiro os infortúnios deste e daquela, até à promoção da mais vulgar boçalidade com os "Casados de Fresco" ou o "Love on Top", -- enfim o esterco despejado em casa das pessoas, quantas vezes com a justificação cínica e vigarista de que é daquilo de que elas gostam (ou até precisam...).
Não falo na cm-tv, a mais ampla cloaca comunicacional, pois está no cabo, e aqui, outros problemas se levantam. O que mais me incomoda, embora não me espante, é a passividade do Estado diante do oportunismo descarado dos operadores, da falta de ética e doutro critério que não seja o de gerar lucro, lançando mão de tudo o que lhe for permitido. 
E pergunto: mas por que diabo devemos nós, e connosco o estado português, que atribuiu as concessões a estes operadores, contribuir para encher os bolsos aos donos e accionistas da sic e da tvi, cuja contrapartida pelo bem público de que se servem é o de espalhar os seus dejectos comunicacionais pelas casas dos portugueses e pelas nossas ruas, através dos painéis publicitários?

Ainda sou do tempo em que as casas de banho públicas das estações da CP do Cais do Sodré e do Rossio eram um antro de porcaria, iam para lá os que gostavam de chafurdar ou os incautos que desconheciam o ambiente. Que haja quem queira fazer televisão com o nível de wc público de país incivilizado, é um problema seu; mas que beneficie do Estado, para o fazer, e que o mesmo Estado contribua, pela inacção, inconsciência, cobardia, para esta caca, isso é que é indesculpável.
Não sei quando se extinguem os prazos das respectivas concessões, mas aqui é que era uma boa oportunidade para a ministra Graça Fonseca introduzir um bocado de civilização, civilidade e civismo nestas pocilgas, ou retirar-lhes a licença para degradar.

terça-feira, novembro 27, 2018

vozes da biblioteca

«Exceptuando a mulher que tinha recebido o velho junto ao portão e com a qual ele conversava nesse momento, não tinha dado pela presença de qualquer alma viva; mas Eguchi, que ali ia pela primeira vez, não tinha conseguido aperceber-se se era a patroa ou uma empregada.» Yasunari Kawabata, A Casa das Belas Adormecidas (1961) (tradução de Luís Pignatelli)

«Quando Gregor Samsa despertou, certa manhã, de um sonho agitado viu que se transformara, durante o sono, numa espécie monstruosa de insecto.»   Franz Kafka, A Metamorfose (1915) (tradução de Breno Silveira)

«Wilson estava sentado na varanda do Hotel Bedford com os rosados joelhos nus encostados à balaustrada de ferro.» Graham Greene, O Nó do Problema (1948) (tradução de J. P. de Barreto-Mendonça)

«Take A Tip»

vozes da biblioteca

«Abriu muito os olhos o abade e só então se apercebeu duma mocinha -- corpo que acaba de espigar na adolescência -- que às mãos ambas cobria o rosto e soluçava.» Aquilino Ribeiro, Andam Faunos pelos Bosques (1926)

«No espaço quadrangular, entre o claustro e a ábside, tinham talhado, num período recente de desobstruções, um adorável jardim com os clássicos arruamentos de buxo enquadrando modestos canteiros de rosas e gerânios.» Manuel Ribeiro, A Catedral (1919)

«Residências a caírem de velhas ou de mal-construídas, rebocos a cobrirem-lhes as fendas e rugas, as suas janelículas, a metros do solo, ostentam-lhes a presunção de inexpugnáveis.» Assis Esperança, Pão Incerto (1964)

no LEFFest #19

Diários de Che Guevara, de Walter Salles. Argentina, EUA, Brasil, Reino Unido, Chile, Peru, 2004). «Homenagem Walter Salles». A génese do Che.

no LEFFest #18

Bleak Moments, de Mike Leigh, Reino Unido, 1971 («Retrospectiva Mike Leigh»). Ainda estou para perceber o ponto de Mike Leigh neste seu filme inaugural: uma concentração improvável de pessoas quase zombies na sua solidão e inabilidade social, e em que a única que está bem é a atrasada mental. Todos os palpites são possíveis. Mas actores superiormente dirigidos, que não se esquecem. 

segunda-feira, novembro 26, 2018

os ladrões cinéfilos

Em 1990, depois do nascimento da nossa primeira filha, deixámos temporariamente o minúsculo apartamento e assentámos arraiais em casa da minha avó, para que ela e a minha mãe (que hoje faria 82 anos) nos dessem competências puericulturais. Num dia em que tive de ir a  casa, provavelmente buscar roupa limpa, dei com o canhão da porta arrombado e esperei o pior. Felizmente, não se confirmaram os meus receios de vandalismo: os larápios haviam aberto gavetas, mas deixaram tudo impecável. Em falta, apenas uma velha televisão, o leitor de vídeo e dois filmes que os ditos foram escolher criteriosamente à pequena videoteca: ambos do Bertolucci, La Luna e O Último Imperador, o primeiro em gravação manhosa feita em casa, a partir duma emissão da RTP, o outro, comprado na loja, bastante mais apresentável. Poderiam ter levado mais, gravados por mim ou em edição de mercado, mas não, negligenciaram o Howard Hawks, o John Ford, o Lawrence Kasdan ou o Woody Allen, só quiseram o Bertolucci. Critérios de ladrões cinéfilos e civilizados... 

no LEFFest #17

L'Homme Fidèle, de Louis Garrel, França, 2018 (Selecção oficial - Em competição). Muito melhor do que esperava, mais do mesmo com o Garrel. Mas o tipo tem substância e tem piada -- assim o demonstrou no Festival, assim pensaram Jean-Claude Carrière, com quem partilhou o argumento, e Laetitia Casta (oh, beleza!...), o papel e a vida real. 

no LEFFest #16

Este Obscuro Objecto do Desejo, de Luis Buñuel (1971) - «Sessões especiais». Sesões especiais, foi o que me saiu primeiro, e assim deveria ter ficado, pois o último do Buñuel é uma febre. Era para contar com a presença de Jean-Claudse Carrière, co-argumentista, que não ocorreu, por motivos de saúde, creio, mas aos oitenta e tal, continua em forma, como verifiquei no filme da noite, o #17.

no LEFFest #15

L'Amore Molesto [Vítma e Carrasco, no infeliz título português], de Mario Martone, Itália 1995 («Homenagem - Mario Martone). Acima de tudo, um filme em que Nápoles brilha,. cintila, esplende.

sábado, novembro 24, 2018

12 sinfonias: 2. Mozart, SINFONIA # 41 (1788) - IV. Molto allegro

no LEFFest #14

Suspiria, de Luca Guadagnino, Itália, 2018 («Selecção oficial - Fora de Competição») O trailer não faz jus ao filme, esteticamente muito interessante, e que me suscitou inicialmente alguma desconfiança. Claro, dispensava algumas fracturas expostas, contorções de quebrar ossos, mas suponho que será o mesmo que querer que um western não tenha tiros. Mas bruxas, portanto, do imaginário tradicional, servas do Satanás, balizadas por expressões do mal absoluto, já não tão pitoresco (o filme passa-se em 1971): o nazismo e o terrorismo, sem aspas ou itálico, da Fracção do Exército Vermelho / Grupo Baader-Meinhof. Tilda Swinton, uma óbvia bruxa. Ainda melhor que o filme, a música do Thom Yorke.

no LEFFest #13

Piazzollla, los Años del Tiburón, de Daniel Rosenfeld, Agentina e França, 2018. «Sessões especiais». Um gigante como Astor Piazzolla tinha de ter um percurso incomum. Revelador, principalmente para os não-argentinos.

sexta-feira, novembro 23, 2018

no LEFFest #12

The House That Jack Buillt, de Lars von Trier - Suécia, Alemanha, Dinamarca, França, 2018 («Selecção oficial -- Fora de competição»). O Lars von Trier é apanhado do clima, mas é outra coisa, está lá em cima, no Olimpo do Cinema.

no LEFFest #11

Vox Lux, de Brady Corbet, EUA, 2018 (Selecção oficial -- Em competição). Junto-me àqueles que se têm referido ao extraordinário papel de Natalie Portman. "Um retrato do século XXI", é o subtítulo deste filme, que nos põe a assistir à transformação da borboleta em crisálida.

quinta-feira, novembro 22, 2018

no LEFFest #10

Double Vies (Non-Fiction), de Olivier Assayas, França, 2018 («Selecção oficial - Fora de competição»). O registo da comédia para falar das questões do nosso tempo é uma abordagem possível, e muitas vezes desejável, desde que não evidencie o encantamento do realizador por si próprio, perigo em que por vezes este incorre, com tanta profundidade a vir ao de cima, e que, por exemplo em Woody Allen, não. Mas nada a apontar, e Juliette Binoche, rapariga da minha idade, continua a ver-se muito bem -- que é uma das coisas que sempre me interessa nos filmes: grandes actrizes -- que ela é (e os outros também) --, de preferência mulheraçamente bonitas, que é uma definição cá minha.

no LEFFest #9

Transit, de Christian Petzold (Alemanha e França, 2018). «Selecção oficial - Em competição» Digamos que o tema 'refugiados' está aí à mão, mas não é para todos, mesmo nesta espécie de parábola, em que os dois magnífico actores aí em baixo mereciam melhor. Digamos que o frio da sala e horas de sono a menos me tornaram inescapáveis os cochilos, mesmo não querendo, mesmo sabendo que os actores magníficos aí em baixo mereciam melhor, incluindo o meu esforço. Nem no fim fui capaz de ter as pálpebras levantadas.  Só espero não ter ressonado que nem um porco.

quarta-feira, novembro 21, 2018

no LEFFest #8

A Pereira Brava, de Nuri Bilge Ceylan -- Turquia, Macedónia, Alemanha, Bósnia-Herzegovina, Bulgária e Sérvia, 2018 (Selecção oficial - Fora de competição). A pereira brava, árvore torta e solitária, mas que parece dá um fruto saboroso. Cineasta de mão-cheia, tem uma pequena pecha na falta de vigilância na extensão de alguns dos diálogos, todavia sempre interessantíssimos. Mas o seu cinema é tão bom, que no fim o que resta é um grande encantamento, que é tudo.

terça-feira, novembro 20, 2018

no LEFFEST #7

Dovlatov, de Aleksey German Jr. Rússia, Polónia e Sérvia, 2018 (Selecção oficial - Fora de competição). Sergei Dovlatov, de quem eu nunca ouvira o nome, amigo de Joseph Brodsky, e o calvário que era ser escritor na União Soviética de ferrugem de Brejnev. Nunca se rendeu à literatura oficial, pagando o preço da invisibilidade. Os leitores, milhões na Rússia, apareceram depois da sua morte, aos 49 anos. Um filme que é também uma parada de literatura russa.

segunda-feira, novembro 19, 2018

vozes da biblioteca

«Os ricos e elegantes foram para Sintra, ou para uma praia qualquer, continuar a vida de Lisboa: as carruagens conhecidas cruzam-se no passeio da tarde, como se cruzavam durante o inverno na Avenida; e à noite, as mesmas soirées reúnem as mesmas pessoas, com os mesmos flirts, e a mesma ponta de má língua -- que, no fim de contas, sempre é uma consolaçãozita na vida.» Conde de Ficalho, «Cartas do Campo - O Repórter, 4 de Setembro de 1888), Dispersos, edição de João Forjaz Vieira (1998)

«Para mim, que conheço a inutilidade dos exércitos, que os considero perniciosos, indignos da nossa época, o gesto do capitão Sadoul, quando há anos demandou a Rússia, mereceu a simpatia do meu espírito.» Ferreira de Castro, «Ecos da Semana -- A Batalha, 15 de Dezembro de 1924), Ecos da Semana -- A Arte, a Vida e a Sociedade, edição de Luís Garcia e Silva, 2004

«Toda, toda a escrita é compensatória de um silêncio.» Maria Velho da Costa, O Mapa Cor de Rosa (1984)

no LEFFEST #6

Shoplifters -- Uma Família de Pequenos Ladrões, de Hirokazu Koreeda, Japão, 2018 («Selecção oficial - Fora de competição»). A ideia é esta, é velha e por vezes verdadeira: as famílias podem ser o inferno, pelo maltrato ou pelo descaso, e o filme gira em torno duma falsa família de pequenos marginais / biscateiros. É interessante e por vezes ternurento; mas, Palma de Ouro em Cannes?... Não havia por lá melhor? Palma de Ouro para um filme que, a terminar (vide traila), quase parece um daqueles pastelões das manhãs da tv de gouchas & companhia, das famílias do coração e semelhantes bugigangas ideológicas;  mas que encaixa na perfeição nas parvoíces antifamilialistas,  lá isso encaixa. Deve ter sido este pechisbeque sociológico do politicamente correcto que encantou o júri de Cannes e a imprensa americana (vide orgasmos finais no mesmo traila).

domingo, novembro 18, 2018

no LEFFEST #5

Curtas de David Lynch, ou produzidas por si.
Os clips de que mais gostei, feitos com Chrysta Belle, um filme publicitária para a casa Dior, um trailer para um festival de cinema, tudo cheio do turbilhão lynchiano, incluíndo a última que aqui ponho, «Idem Paris», que achei magnífico.



12 sinfonias: 1. Haydn, SINFONIA #104 (1795) - IV. Finale-Spiritoso

no LEFFEST #4

Segredos & Mentiras, de Mike Leigh, Reino Unido e França, 1996 (Retrospectiva Mike Leigh). Como teatro (bem) filmado e british touch. Muito bom.

no LEFFEST #3

Lynch One, de Jason S., França, 2005 (Waiting for Mr. Lynch...). Documentário do processo criativo de David Lynch. 

no LEFFEST #2

Psychogenic Fugue, de Sandro Miller (EUA, 2016) (Waiting for Mr. Lynch...). Recriação por John Malkovich de algumas personagens emblemáticas de David Lynch, e do próprio.

sábado, novembro 17, 2018

12 sinfonias: Tchaikovsky, SINFONIA #4 (1878) - III Scherzo. Pizzicato ostinato

no LEFFEST #1

The Sisters Brothers, de Jacques Audiard. França, Espanha, Roménia, EUA, 2018  (Selecção oficial -- Fora de competição). John C. Reilly esplende; com Joaquin Phoenix forma uma inesquecível dupla de irmãos no cinema.

sexta-feira, novembro 16, 2018

para que serve uma ministra do Mar?

Para nada, a não ser um ou outro número mediático, em especial quando se diz socialista e tem uma atitude teoricamente equidistante, perante um evidente caso de exploração laboral, como sucede com os estivadores do porto de Setúbal.


Adenda (21/XI): Já estamos a falar melhor; mas, bolas, podia ter sido mais cedo.

vozes da biblioteca

«Para que o sr. Director o estimasse, inventava, todos os dias, delicadezas inéditas, cumprimentos, curvaturas de espinha.» Assis Esperança, Gente de Bem (1938)

«Principiara, parece, uma chuva invisível e contínua...» José Régio, Jogo da Cabra Cega (1934)

«Quando, porém, o outeiro, em curva suave de ventre feminino, se cosia ao sinuoso caminho que dava acesso à aldeia, deteve-se, meditativo, a contemplar a sua casita, quase debruçada no Caima.» Ferreira de Castro, Emigrantes (1928)

quinta-feira, novembro 15, 2018

vozes da biblioteca

«Assim o entendera José das Dornas, que foi amestrando o seu primogénito e preparando-o para um dia abdicar nele a enxada, a foice, a vara, a rabiça, e confiar-lhe a chave do cabanal, tão repleto em ocasiões de colheitas.» Júlio Dinis, As Pupilas do Senhor Reitor (1867)

«Uma vez predispostos a trocarem o certo pelo incerto, em vez de se acomodarem, tal-qualmente os seus avós, às servidões sem chorume, esses homens abalavam "às cegas".» Assis Esperança, do «Prefácio» a Fronteiras (1973)

«Vendido o solar, alguns maços de notas assim recebidos, queimou-os ele raivosamente (queimou-os, como? pelas feiras, em banquetes...) blasonando que só tinha valor o oiro e a prata, por causa da efígie dos reis, -- calculo agora.» José Marmelo e Silva, Sedução (1937)

criadores & criatura



Stan Lee, Steve Ditko e Spider Man / O Homem-Aranha


quarta-feira, novembro 14, 2018

vozes da biblioteca

«Contava Zargtnischekbljmpvundowfyx (o j lê-se i) que a mentira salva a humanidade.» Ernesto Rodrigues, Um Passado Imprevisível (2018)

«Na noite que caía, envolvendo em sombras a figura de mulher que tanta dor exprimira, já mal se distinguiam as feições magoadas por um rictus de sarcasmo e de revolta.» Joaquim Paço d'Arcos, Ana Paula (1938)

«Um, o mais moço e pela aparência o de mais grada posição social, era transportado num pouco escultural, mas possante muar, de inquietas orelhas, músculos de mármore e articulações fiéis; o outro seguia a pé, ao lado dele, competindo, nas grandes passadas que devoravam o caminho, com a quadrupedante alimária, cujos brios, além disso, excitava por estímulos menos brandos do que os de simples e nobre emulação.» Júlio Dinis, A Morgadinha dos Canaviais (1868)

estampa CCCXL - Marc Chagall


Homem-Galo por Cima de Vitebsk (1925)

terça-feira, novembro 13, 2018

vozes da biblioteca

«Isto no Ribatejo, e principalmente na Borda d'Água, o ter feito frente a um toiro é de muito mais estimação que ter fidalgo ou doutor na família.»  Alves Redol, Fanga (1943)

«O acaso / não os favorece»  Adília Lopes, «Os namorados pobres», Dobra (2009) / Resumo -- A Poesia em 2009 (2010)

«Os banhos de mar, que a Medicina empiricamente me aconselha, estorvam-me o maior número de outras ocupações: -- verdade é, que das mais gratas ao coração, já tenho cedido a beneplácito de uma espécie de sezão moral que me apoquenta.»  Camilo Castelo Branco, carta a José Barbosa e Silva, 10 de Julho de 1849, Alexandre Cabral, Correspondência de Camilo Castelo Branco com os Irmãos Barbpsa e Silva, vol. I (1984) 


segunda-feira, novembro 12, 2018

50 discos: 16. OS SOBREVIVENTES (1971) - #6 «O Charlatão»



e que tal o aeroporto de Beja + tgv?

Desde os governos de Marcelo Caetano que se fala na necessidade de um segundo aeroporto que sirva Lisboa. Mais um sinal de que este não é um país para ser levado a sério, e muito menos a miséria das suas elites dirigentes.
Depois dum risco sério de catástrofe, ontem, e de se perceber que nem Montijo (por questões de segurança e risco para as populações) nem Alcochete (pelo atentado ecológico à Reserva Natural do Tejo e pelo risco para a segurança dos voos que comporta uma tão grande concentração de aves) não constituem aparentemente alternativa, pergunto:
não seria mais viável aproveitar o aeroporto de Beja, já construído, com uma linha de comboio de alta velocidade? quanto tempo demoraria o percurso de 178 km entre Beja e Lisboa em tgv?; não ficaria mais barato do que construir um novo aeroporto?; não seria mais seguro para as populações?

domingo, novembro 11, 2018

lido


12 sinfonias: 11. Sibelius, SINFONIA # 1 (1899) - III. Scherzo

vozes da biblioteca

«A hipnose das sociedades ocidentais, rastejando em direcção ao "ter" e ao "produzir", repugna-me, sempre me repugnou, profundamente.» Adalberto Alves, Oriente de Mim (1992)

«D. António Sepúlveda de Vasconcelos e Meneses, senhor do morgadio do Corgo, festejava nesse dia soalheiro de Outubro, em 1807, os vinte anos viçosos da linda Maria do Céu.» Carlos Malheiro Dias, Paixão de Maria do Céu (1902)

«Lá dentro, Doninha, todo nu, estava estirado ao comprido, de costas, pernas e braços abertos, sobre o chão imundo.» Manuel da Fonseca, Cerromaior (1943)

estampa CCCXXXIX - August Macke


Banhistas

sexta-feira, novembro 09, 2018

quinta-feira, novembro 08, 2018

estampa CCCXXXVIII - Leland Holiday


Homem Lendo um Livro

quarta-feira, novembro 07, 2018

vozes da biblioteca

«Do lado oposto à cidade a estrada descrevia uma curva ao longo de muros cerrados, onde os grilos pareciam, de Verão, o queixume da ilha abafada e em que pairava agora um pasmo solto de tudo, menos do mar.» Vitorino Nemésio, Mau Tempo no Canal (1944)

«Fala-me de outra / Coisa, de não haver pão ou coragem / Para o partilhar.» Rui Almeida, Muito, Menos (2016)

«O vento e o marulho do Oceano fundiam-se num rosnar cavo e profundo.» Romeu Correia, Calamento (1950)

«Oriente»

vozes da biblioteca

«À esquerda era o jardim de buxo, húmido e sombrio, com suas camélias e seus bancos de azulejo.» Sophia de Mello Breyner Andresen, «O jantar do bispo», Contos Exemplares (1962)

«E improvida continuaria, se não viesse ocupar, naquela casa, o invejado lugar de filha adoptiva, criado para ela -- mas difícil, tão difícil que muita vez apelava angustiada para a sua firme resolução de ser alguém, tapando a boca a repostadas e rebeldias.» Assis Esperança, Servidão (1946)

«Olhe: quando é tiro de verdade, primeiro a cachorrada pega a latir, instantaneamente -- depois, então, se vai ver se deu mortos.» João Guimarães Rosa, Grande Sertão: Veredas (1956)

lido


terça-feira, novembro 06, 2018

Dia Ferreira de Castro no CCB


No próximo sábado, 10 de Novembro, a partir das 15 horas
uma parceria Centro Nacional de Cultura / Centro Cultural de Belém




segunda-feira, novembro 05, 2018

criadores & criatura

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Alberto Breccia, Héctor G. Oesterheld e Mort Cinder

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vozes da biblioteca

«Ainda que Maria Emília nunca o tenha entendido com clareza, foi aquele espelho que lhe abriu o destino.» Hélia Correia, O Número dos Vivos (1982)

«Na madrugada de Londres, numa noite de Janeiro de 1965, ao som opaco de tambores, ouvem-se passos lentos e cadenciados que vão tomando conta do murmúrio da imensa cidade adormecida.» António Cartaxo, Ao Sabor da Música (1996)

«No isolamento absoluto da noite, as matérias do curso costumavam entrar-me pelo espírito dentro, com uma fluidez e limpidez de água corrente.» Francisco Costa, Cárcere Invisível (1949)

«Red Rain»

domingo, novembro 04, 2018

12 sinfonias: 12 Prokofiev, Sinfonia #1 (1918) - III. Gavotta: Non troppo allegro

ora ai está...

O Golem espreita sob o nome de Fascismo

vozes da biblioteca

«Atravessou de novo a praça, batendo pausadamente o tacão das botas, deixando cair os últimos pingos de lama, e dirigiu-se à redacção da Comarca de Corgos, sempre no mesmo passo oscilante e pesado, como se o levasse a custo o vento que arrastava no chão as folhas quase podres dos plátanos.» Carlos de Oliveira, Uma Abelha na Chuva (1953)

«Como opinara depois João Fulgêncio, homem de muito saber, dono da Papelaria Modelo, centro da vida intelectual de Ilhéus, fora mal escolhido o dia, assim formoso, o primeiro de sol após a longa estação das chuvas, sol como uma carícia sobre a pele.» Jorge Amado, Gabriela, Cravo e Canela (1958)

«Lilias salvou-se da carnificina porque, seis horas antes da batalha, viu o pai morto, como realmente ele haveria de morrer mais tarde.» Hélia Correia, Lilias Fraser (2001)

sexta-feira, novembro 02, 2018

O LIVRO DOS AMORES INÚTEIS - I

amo a abertura interminável do primeiro concerto para piano do brahms à época mal recebido
amo a capitu
amo as capas da antologia do conto moderno da atlântida de coimbra concebidas pelo victor palla
amo a casa centenária da minha avó zé no estoril
amo a casa do balzac em paris longa caminhada à beira-sena para lá chegar
amo a casa do dickens em londres
amo a englishness dos genesis em selling england by the pound
amo a obstinação do meu pai militante activo do pcp aos oitenta e sete
amo a força de braço do john bonham a fustigar as peles
amo a lembrança da minha filha joana dizendo a estranhos chamar-se 'marta isabel'
amo a lembrança do meu filho antónio dizer a estranhos chamar-se 'antónio búfalo'
amo a lenda de despojamento e libertinagem do meu avô joão, da qual me sinto divertidamente herdeiro
amo a loucura do antero de quental da viagem à américa até a um banco de jardim em ponta delgada
amo a aguda lucidez do orwell
amo a memória celta da minha avó celeste
amo a minha mãe
amo a safadeza não-erótica do carlos drummond de andrade
amo a serra do caldeirão atravessada num rolls nos idos de setenta
amo os ângulos da escultura do antónio duarte
amo as mães que fazem porno
amo as mansardas das casas centenárias lembrando a casa centenária em que vivi sem mansarda
amo andarmos em mãos dadas
amo o adagietto da 5.ª sinfonia do thomas mann perdão do gustav mahler
amo o badalo benzo personagem criada pelo meu filho antónio
amo o badminton jogado pela minha filha capi
amo o delírio do sir john tenniel no país das maravilhas
amo o desenlace inesgotável da quinta de tchaikovsky
amo o esgar do pirata barba ruiva a bordo do 'falcão negro'
amo o gabinete de guerra do churchill ao som de londres bombardeada
amo o humor rugoso do goscinny aparentemente para todos
amo o kropotkin anarquista geógrafo príncipe revolucionário encarcerado evadido
amo o leite de vasconcelos de burro pelo país fora pesquisando um passado que no país era ainda presente
amo o leite vigor de odrinhas
amo o loiro dos teus cabelos grisalhos
amo o grisalho nos teus cabelos loiros
amo o rasgo da escultura do cutileiro
amo o sangue africano do meu avô zé
amo o toque na minha da tua pele
amo os combatentes na guerra civil de espanha, pela república
amo os dois volumes da correspondência do eça de queirós editados pelo guilherme de castilho na imprensa-nacional e lidos nos velhos estofos da linha do estoril
amo os dois álbuns do tintin que possuo editados pela flamboyant
amos os papéis da minha filha teresinha
amo os riffs etílicos do rory gallagher
amo os telhados de bruxelas em linha clara
amo todas as mulheres grávidas
amo todos os anarquistas a) coerentes b) sinceros c) verdadeiros (riscar o que não interessa)
amo todos os meus blogues
amo os períodos intermináveis do saramago, a lembrarem as divagações do nemésio na televisão

ainda vai a presidente do Brasil,

o coiso que mandou prender o Lula, com as provas que toda a gente viu. Palhaço.

quinta-feira, novembro 01, 2018

vozes da biblioteca

«A confusão estabelecida pelos "entendidos" em camilografia, em geral simples camilómanos, acerca da obra de Camilo Castelo Branco "A Infanta Capelista" é de tal ordem que os não iniciados nos mistérios da vida desse escritor dificilmente encontram o fio da meada, propositadamente enredada pelos camilófagos e "camelianistas".» Jaime BrasilO Caso de "A Infanta Capelista" de Camilo Castelo Branco (1958)

«Casa pobre com janelas e duas portas ao fundo, uma para a rua e outra para a cozinha. Mesa com livros de escrituração comercial. Inverno. Cinco horas.» Raul BrandãoO Gebo e a Sombra / Teatro (1923)

«Procurava falar português com a mesma fluência dos que tinham saído de Angola já adultos, tal como ouvia as conversas dos mais velhos com o fito de melhorar a língua materna, o umbundu.» Sousa Jamba, Patriotas (1990) (tradução de Wanda Ramos)

50 discos: 39: PERMANENT WAVES (1980) - #6 «Natural Science»



Bondi Trailer - Pirates, Vikings and Knights II (contentamentos de pai)


(animação, edição e música (!) do meu filho)

quarta-feira, outubro 31, 2018

os amores inúteis #42


O badminton jogado pela minha filha Capi.

vozes da biblioteca


«O poeta aceita a sua morte como o Estio aceita a chegada do Outono ou o dia aceita a chegada da noite.» Guilherme de Castilho, «Alberto Caeiro -- Ensaio de compreensão poética», (1936), Presença do Espírito (1989)

«Persuado-me também que à posteridade pouco se dará que eu tenha nascido em Vila de Frades, no largo da Misericórdia, numa casinha de taipa construída por pedreiros da minha gente, e que haja sido meu pai, mestre-escola da terra, e tipo de santo austero numa alma de sonhador sempre calado, que protegesse e dirigisse os rudimentos da minha educação.» Fialho de Almeida, «Eu», A Esquina (1903)

«Sílvia entra do fundo com um braçado de flores. Começa a dispô-las nas jarras, cantarolando baixinho» João Pedro de AndradeO Diabo e o Frade (1963)

«Tunnel Of Love»

estampa CCCXXXVII - Paul Klee


O Artista à Janela (1909)

terça-feira, outubro 30, 2018

voze das biblioteca

«Era uma vez antigamente, mas muito antigamente, nas profundas do passado quando os bichos falavam, os cachorros eram amarrados com lingüiça, alfaiates casavam com princesas e as crianças chegavam no bico das cegonhas.» Jorge AmadoO Gato Malhado e a Andorinha Sinhá (1976)

«O romancista vai de indivíduo em indivíduo, como a abelha quando forrageia o pólen, e a um pede o físico, a outro a índole, a este uma anedota, àquele um pormenor característico, e assim amassa por aglutinação os seus figurantes.» Aquilino Ribeiro, do prefácio à 2.ª edição [1944] de Volfrâmio (1943)

«Se espraiávamos os olhos em redor, para cima, para baixo, para a direita e para a esquerda, tudo era branco e tudo nos dava uma sensação de soledade imensa.» Ferreira de CastroCanções da Córsega (1936)