segunda-feira, novembro 26, 2018

os ladrões cinéfilos

Em 1990, depois do nascimento da nossa primeira filha, deixámos temporariamente o minúsculo apartamento e assentámos arraiais em casa da minha avó, para que ela e a minha mãe (que hoje faria 82 anos) nos dessem competências puericulturais. Num dia em que tive de ir a  casa, provavelmente buscar roupa limpa, dei com o canhão da porta arrombado e esperei o pior. Felizmente, não se confirmaram os meus receios de vandalismo: os larápios haviam aberto gavetas, mas deixaram tudo impecável. Em falta, apenas uma velha televisão, o leitor de vídeo e dois filmes que os ditos foram escolher criteriosamente à pequena videoteca: ambos do Bertolucci, La Luna e O Último Imperador, o primeiro em gravação manhosa feita em casa, a partir duma emissão da RTP, o outro, comprado na loja, bastante mais apresentável. Poderiam ter levado mais, gravados por mim ou em edição de mercado, mas não, negligenciaram o Howard Hawks, o John Ford, o Lawrence Kasdan ou o Woody Allen, só quiseram o Bertolucci. Critérios de ladrões cinéfilos e civilizados... 

3 comentários:

PNLima disse...

Hoje em dia já não se encontram desses! Eu teria atacado o John Ford ;-)

Adelaide Bernardo disse...

Que história fantástica. Realmente, enveredar por um determinado ramos de actividade criminal não implica falta de sensibilidade e cultura artítica. As notícias dão conta de muitos casos desses... ;)
Abraço.

R. disse...

Paula, eu teria ficado com o »La Luna». :|

Adelaide, é isso mesmo. Gostava de um dia encontrar o ladrão :)