Escreve Emílio Costa*: «A quem nunca foi caluniado nem difamado, falta um elemento de muito valor para conhecer o mundo.»
Dizem que só se calunia e difama quem tem algum valor. Porque pode fazer sombra, porque a insegurança de quem calunia acusa a real ou suposta importância daquele que se torna alvo, etc., etc.
Eu, que sei já ter sido caluniado pelas costas, raramente peço explicações àqueles que não têm coragem de afirmar de caras o que insidiam às esconsas. Por algumas razões: em primeiro lugar porque não tenho grandes medos, nem de hipotéticos telhados de vidro -- lido bem com as minhas fraquezas. Não ter medo(s) é óptimo para ultrapassar as rasteirazinhas que nos vão fazendo. Depois, julgo ter um sentido crítico que relativiza o que não é importante e, principalmente, quem não é importante. Gasta-se boa parte do tempo a tropeçar em gente que não interessa, isto é: gente desinteressante. Por último, tenho cara de poucos amigos, quando quero. Há quem pense duas vezes antes de me aborrecer. Claro que preferiria que esse expediente estivesse ausente das relações humanas, menos por mim do que por aqueles que se degradam em praticá-lo.
* Filosofia Caseira, Lisboa, Seara nova, 1947, p. 157.
3 comentários:
É isso mesmo. Uau!
Meu Caro,
Não sei que imediatas ou mediatas razões lhe assistem neste seu filosofar caseiro. Mas gostei. Está à altura do que de si conheço.
Às vezes não dá para ficarmos pela poesia, pela música ou pelo cinema - temos mesmo que partir a cara dos que nos atrapalham a vida.
Mas já me vou deixando de tais heroísmos... por causa dos óculos.
Rose, talvez fanfarronice, mas nem por isso menos verdadeira... De tudo, o que tem mais significado para mim é a tristeza da degradação.
Manuel, obrigado, mais uma vez. Felizmente, não há razões mediatas, apenas um aforismo do Emílio Costa para o caderninho, que suscitou a posta. Mas não me fale em óculos!... Há conta deste meu bom feitio, já fiquei sem um par deles :|
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