quarta-feira, janeiro 19, 2011

inveja & despeito

Não é que eu ande com fixação no tema, mas ele não deixa de ser uma triste evidência para quem se dá ao trabalho de circular. Estava a pescar palavrinhas para o blogue e deparo-me, no livro delirante do Teixeira de Pascoais, com os alegados «defeitos da alma pátria», um dos quais a inveja, é claro. É preciso no diagnóstico (a reacção do nulo diante do valor do outro, distinção que, por contraste, mais realça essa nulidade) e lúgubre na poética: «A Inveja! Nós vêmo-la, nas trevas, farejar: é um esqueleto de hiena visionando um cemitério...»*. A verdade é que há zeros inofensivos e outros que não o são tanto; pelo contrário, bastante mauzinhos, por vezes. A estes, gosto de os chatear.
Ligado à inveja, aparece o despeito. Esta campanha eleitoral, por exemplo, transbordou de despeito. Pequenas misérias humanas a que não nos poupam.

* Arte de Ser Português, 3.ª ed., Lisboa, Assírio & Alvim, 1998, p. 101.


4 comentários:

Valquíria Calado disse...

A inveja é feia...
abraço amigo e bom resto de semana.

Ricardo António Alves disse...

Muito feia.
Obrigado e para si também.

Mónica disse...

hmmm o despeito e a politica são para disfarçar? pior q a inveja é o cinismo disfarçado de assertividade :P uma chatisse que está muito em moda.

Ricardo António Alves disse...

O cinismo, sendo um defeito, pode ser também um expediente de sobrevivência; o despeito, tem que ver com o ressentimento e com o rancor, muito aparentado à inveja.