segunda-feira, janeiro 31, 2011

regresso ao passado

Disse o narrador dum esplêndido Cyro dos Anjos*: «Os amigos são tão raros que precisamos conservá-los a todo o custo. E quando não possamos ser amigos cem por cento, sejamos cinqüenta ou vinte. Quando encontro, em alguém, cinco por cento de afinidade, contento-me com esses cinco por cento.» Cyro andava pelos trinta anos quando isto escreveu, trinta anos já maduros, pois não há nada mais intolerante do que um jovem adulto, cheio de força e espaço próprio a conquistar. Quando a maturidade chega, tudo se estreita e relativiza: passamos a valorizar as afinidades, como se à procura duma adolescência perdida, idade de descoberta e comunhão.
*O Amanuense Belmiro, Lisboa, Livros Cotovia, 2005, p. 101.

4 comentários:

rose marinho prado disse...

E por que é que tudo se estreita? Pq decerto estreitado era. na juventude - e adolescência - preenchem-se sulcos da imagem que se tem do outro e da amizade que ele nos oferta.
Fantasiamos, ainda restam os caleidoscópios do tempo do colégio. A fantasia tente a envolver muito os primeiros afetos da juventude.
Quem não adorava o líder da turma , seguindo-lhe até as modas mais infames.
Na minha turma havia um rapaz e uma moça, namorados eles, tão poderosos, tão debochados do mundo adulto que só por isso já os seguia. Eram meus novos pais.
Aí é que está, pois pais não eram e sim, amigos fantasia.
Amigo mesmo acho que só na época do asilo, o colega do quarto, esse asilo de velhos para onde provável nós deste mundo tão neoliberal iremos.
* estou meio lúgubre, desculpe, Ricardo

Ricardo António Alves disse...

Então, Rose, vá pelo Cyro: aproveite as afinidades, é o melhor...

Anónimo disse...

curioso e verdadeiro este depoimento. gostei muito de ler. obrigada.

Ricardo António Alves disse...

Eu é que agradeço, Alice.