A sensação que tenho, com a morte de José Saramago, é que ele (e também Agustina) foi o último dos grandes -- não no sentido da qualidade literária, porque, felizmente, enquanto houver Literatura haverá sempre quem faça uso das palavras para acrescentar mundos ao mundo; mas no da aproximação simbólica ao escritor demiurgo, maitre à penser ou não, alguém doutro patamar, transportando consigo a aura dos que sentem mais fundo e mais longe. Os viventes estão demasiado contaminados pela mesquinhez do quotidiano -- algo a que ele se subtraiu desde que Levantado do Chão surgiu como um romance fora-de-série, e que, com Memorial do Convento, fecha o neo-realismo com chave de ouro. Não tenho dúvidas de que o futuro registará José Saramago como hoje assinala outros grandes romancistas e prosadores do século XX: um Raul Brandão, um Aquilino Ribeiro, um Ferreira de Castro, um José Régio, um Vitorino Nemésio e, quem sabe?, um Alves Redol, um Manuel da Fonseca, um Vergílio Ferreira, um Jorge de Sena, e outros que nem sequer me passam pela cabeça.
sexta-feira, junho 18, 2010
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3 comentários:
Hoje a Literatura mundial ficou mais pobre e nós mais tristes.
Um grande abraço a Portugal.
Domenico Condito
Partilho inteiramente a sua visão, RAA.
Um abraço.
Um abraço, Domenico, a si, que desde que o conheço da blogosfera, o soube admirador do Saramago.
Obrigado, Ana Paula, outro para si.
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