segunda-feira, dezembro 07, 2009

Antologia Improvável #411 - Cesário Verde

PROH PUDOR

Todas as noites ela me cingia
Nos braços, com brandura gasalhosa;
Todas as noites eu adormecia,
Sentindo-a desleixada e langorosa.

Todas as noites uma fantasia
Lhe emanava da fronte imaginosa;
Todas as noites tinha uma mania
Aquela concepção vertiginosa.

Agora, há quase um mês, modernamente,
Ela tinha um furor dos mais soturnos,
Furor original, impertinente...

Todas as noites ela, ó sordidez!
Descalçava-me as botas, os coturnos,
E fazia-me cócegas nos pés...


«Poesias dispersas»,
O Livro de Cesário Verde
(edição de Maria Ema Tarracha Ferreira)

1 comentário:

Ricardo António Alves disse...

Mas ele era um rouxinol :|
Obrigado, também para si.