SÔBRE CACILDA. PRETA. POR FOME.
Cacilda. Preta. Por fome
(essa fome brasileira,
mais nortista que sulista,
sergipe de tão comum),
Cacilda, preta, por fome
de comida se dá tôda.
Por amor só dá a um.
Mau comércio de Cacilda.
Cacilda dorme com todos
mas acorda sem nenhum.
Vigarice de Cacilda
pelas ruas do Sol-Pôsto
cavando seu desjejum:
Se espoja em cama-de-vento
apaga a vela a Ogum.
O corpo vira cem pratas.
Com vinte de safadeza,
mais dez de sem-vergonhice,
Cacilda compra pimenta.
Meia-noite janta atum.
Ah profissão de Cacilda
que deita por feijão-prêto
e nana por jerimum.
Deita, Cacilda. Deitada,
a fome quebra o jejum.
Cacilda, preta expedita
polvilha pele e axila.
Com talco leite de rosa
desodoriza o bodum.
Cacilda, preta expedita.
Sempre fatura algum.
Cacilda, negrinha à-toa,
mulher de Cosme e Doum.
Com fome se dá a todos.
Jantada, só dá a um.
O Livro de Zaíra Kemper & Poesia Reunida
segunda-feira, junho 15, 2009
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2 comentários:
Não conhecia. Mas adorei esta poesia sobre a Cacilda!
:)
Saborosíssima Ana Paula :|
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