NA HORA DO VÍCIO
Ao Jorge Pereira
A tarde cai sobre a cidade velha...
No céu -- listas violetas -- em desmaio...
É nestas tardes místicas de Maio
Que eu sinto, a arder, a tentação vermelha!
É nestas tardes de opressão, de sustos,
Que a minh'alma potente e vagabunda,
Procura, entre as florestas e os arbustos,
Esses frutos que a dor beija e fecunda!
É nestas tardes sôfregas de amor
Que, olhando em volta, eu vejo que me falta,
P'ra conquistar a situação mais alta,
Alguém que me enterneça, com fervor!
Penumbras de oiro, abraçam na distância,
Os longes desta capital sem pão...
Quem pudesse correr, o arco na mão,
De bibe azul, os bulevares da infância!
A tarde cai nas cúpulas, no rio...
Fecho os meus olhos, abro o coração...
Evoco a graça das mulheres e não
Mitigo as minhas tentações do Cio!
Ao relento de 1911.
Lisboa.
Obra Poética
(edição de Ruy Galvão de Carvalho)
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