sábado, dezembro 20, 2008

figuras de estilo - Miguel Real

[..] a lama que te apanhou, meu querido, são as borras do Portugal velho, a enxúndia dos possidentes, a escória dos burocratas-juízes-finaceiros, a escuma dos ancestrais-professores-de-direito-de-Coimbra, a baba escorrente dos frades-barões do Almeida Garrett, a ralé dos fidalgos-terratenentes-parasitários das terras e das aldeias do Júlio Dinis, o cuspo dos bacharéis-administradores-de-concelho do Eça, o escarro dos cónegos-abades-vigários do Camilo, o babadouro dos directores-superintendentes-capitães do Raul Brandão, a escória dos desempregados-da-Índia do Pessoa e dos loucos-lúcidos-alucinados do Sá-Carneiro, a gosma dos reitores-professores-funcionários-ignorantes do Vergílio Ferreira, a gentalha-canalha dos medíocres-interioreâneos-cobiçosos-das-oportunidades-na-cidade-grande, como o ministro das contas, do Régio, o refugo dos chupistas-patrões que engolfam e não partilham do Ferreira de Castro, os descendentes-embrutecidos das casas fidalgas do Norte da Agustina, o rebotalho dos banqueiros-protegidos-do-regime do Lobo Antunes, os aljubeiros cegos de presos cegos do José Saramago, as vísceras podres das personagens vernaculares do Mário Cláudio, o restículo miguelista dos dons João V e VI sugando o ouro do Brasil e enforcando Gomes Freire de Andrade, é da diarreia dos dejectos deles que este fogo é feito, não do fogo da vida, que não queima e não mata [..]

O Último Minuto na Vida de S.

2 comentários:

Unknown disse...

Bravo pela síntese.
Numa época em que a nossa auto-estima nacional anda pelas ruas da amargura, tomo a liberdade de lhes reenviar uma súmula de uma obra reveladora
dos motivos das nossa amarguras e constrangimentos. Recomenda- se a sua leitura, urgente e obrigatória, a todos os cidadãos, sem limite de idade ou ideologia. Não receiem de corar de vergonha.
Trata-se de "O Grande Livro dos Portugueses Esquecidos", do historiador Joaquim Fernandes, um inventário do "Portugal lá fora", singular e surpreendente, que revela um rosário de vidas
excitantes e exemplares de Portuguesesque não tiveram lugar no seu próprio país por intolerâncias de vária ordem.
É em simultâneo um diagnóstico das causas dos nossos atrasos seculares e uma homenagem
a tantos ilustres compatriotas que a nossa memória colectiva não reconhece.

Passem palavra. Incendeiem as consciências.



Saudações,



Júlio Fernando Anes

Ricardo António Alves disse...

Muito obrigado pelo alvitre!