El Cant dels Ocells, de Albert Serra. «Os Três Reis Magos viajam em busca do Messias, que acabou de nascer.» Treze palavras contém a sinopse deste filme catalão rodado nos exteriores islandeses. Diálogos esparsos, planos longuíssimos, o marulhar das ondas como fundo sonoro permanente (a música surge, fortíssima, passados mais de 90 minutos do início do filme, quando Gaspar, Belchior e Baltazar se acercam do palheiro do Menino). Esticar da corda com o espectador. Do meu lado, ela não se esgarçou.
Quatro Noites com Ana, de Jerzy Skolimovski (fora de competição). Dele vira o notável O Navio Farol, com Robert Duval e Klaus Maria Brandauer. Quatro Noites com Ana, um filme sobre equívocos: do pobre diabo Leon Okrasa, meio Quasimodo, meio Mister Bean, com uma fixação por uma planturosa enfermeira que vê desgraçadamente a ser violada, o que mais lhe exacerba a obsessão. Uma obsessão pueril, contudo. O espectador que estava à espera dum assassino psicopata, depara-se com um infeliz grotesco que se introduz no domicílio de Anna durante a noite. Para quê? Para a contemplar, limpar-lhe a casa, entregar-lhe um anel de noivado, pintar-lhe as unhas dos pés, tudo enquanto Anna dorme... O desconforto é grande, o décor é descarnado e soturno, há reminiscências da era soviética (o interrogatório) e pós-soviética (a mediocridade frugal transforma-se em abandono e pobreza). Passada o espanto, é um filme a rever.
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