sexta-feira, setembro 19, 2008

Antologia Improvável #331 - Paulo Teixeira (2)

O ESPÍRITO E O TEMPO

Pudesse elevar-se o espírito acima do tempo,
ser o mundo só um espectáculo comovente,
qualquer coisa de especioso abaixo das nuvens,
e onde a luz ao incidir fosse pura estesia.

Estábulo onde fechados esperamos o drama
por encenar no presente o espaço que é nosso:
chaminés, gólgotas, campos de batalha,
domínio de prazer forense, breve e matizado

pela dor, onde, providos de um costume,
fomos, instruídos em verdades que se ocultam
e sem outra instância de apelação que a morte,
em busca de conforto pelo fim do dia.

Pudesse elevar-se o espírito acima do tempo,
consigo levando nos dedos um pouco de terra queimada;
por pudor não olhasse em baixo o mundo,
já sem relógios e informes profecias,

envolto em luz espectral e fundado no que não existe.


As Esferas e Outros Poemas / Descanso na Fuga para o Egipto

2 comentários:

Ana Paula Sena disse...

Não conhecia, e muito agradeço a possibilidade de ler. :)

Ricardo António Alves disse...

Eu é que agradeço o comentário!
É uma poesia culta e um pouco contra a corrente actual. Este «Descanso na Fuga para o Egipto» é uma antologia pessoal, uma boa resenha da sua obra. :)