O FIO DA VIDA
Há homens que rezam na penumbra
das catedrais dolentes e há outros
que do alto das pontes olham
a escuridão rumorejante das águas.
Há homens que esperam na orla
marítima e outros arrastando-se
no viscoso esterco dos subterrâneos.
Há homens debruçados em pleno azul
e outros que deslizam sobre densos verdes;
há os desatentos na atenção e os que
espreitam atentamente a ocasião.
Há homens por fora e por dentro
do cimento armado, suspensos
das mil ciladas do quotidiano voraz;
de encontro aos muros, às paredes,
ao sol do meio-dia, ao visco da noite,
às sediças solicitações de cada instante.
Há a impotência poderosa da oração
e a obsessão amarga dos suicidas
e, de permeio, os que, porque hesitam,
porque ignoram, porque não crêem,
não oram, nem se suicidam
e se quedam ante a impossibilidade de destrinça
entre o fio da vida e a vida por um fio.
Mangas Verdes com Sal / Obra Poética
quarta-feira, abril 02, 2008
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5 comentários:
Acertou em cheio!Gostei mesmo! A cadência do paralelismo, 'há homens' é perfeita! Uma quase oração. Obrigada pela recomendação.
beijinhos
Ainda bem!
Também para si.
Tão bonita, vizinho, a poesia do Rui Knopfli. Escolhi exactamente o poema "Mangas Verdes com Sal" para a minha antologia culinária, porque o achei lindo também.
Um beijo
Eu gosto muito da poesia dele, e o «Mangas Verdes com Sal» é talvez o livro que prefiro.
A propósito: procurei a sua antologia na fnac de Cascais e não a encontrei. É sinal que se vendeu.
Outro para si.
Está esgotada, vizinho. Experimente a Galileu, em Cascais, talvez ainda tenha. Mas vai ser reeditada, só ainda não sei quando.
Um beijo
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