quinta-feira, junho 15, 2006

Espera

A noite fechada trouxe-me cá fora, ao alto portão de ferro. Agarro-me às grades como um escravo da luz de breu. Passo o portão e em dois passos estou na abadia que parecia distar léguas. Um cheiro fétido a suor e burel revelam-me um monge que me fita silencioso. Trespassa-me uma ventania de claustro e o piso, antes terroso, é agora de pedra. Não consigo articular uma palavra, apenas sons abafados pelos sinos que me ensurdecem. Os olhos, de dentro do capuz, indicam-me agora um rectângulo na laje. Gravado está o meu nome, o dia do meu nascimento, e o desta noite.
Agosto de 2000
Seis Composições Outonais

Sem comentários: