sexta-feira, junho 23, 2006

Antologia Improvável #142 - Martins Fontes (2)

O INDIFERENTE

Ao Poeta Luís Edmundo, no dia da nossa
visita ao Salão La Case, no Louvre.

Les donneurs de sérénades
Et les belles écouteuses
Échangent des propos fades...

Watteau-Verlaine-Samain
Fêtes Galantes

No azulor do silêncio o parque se edulcora...
Luarizam-se os cetins, afinando os corpetes...
Desprendem-se os roclós, soltam-se os manteletes...
Sons de viola de amor, mandolina ou mandora...

Vinhos de Asti e Tokay... Granadinas de Angora...
Confeitilhos. Bombons. Caramelos. Sorvetes.
Ruge-ruges... A ouvir-lhe o flautim dos falsetes,
Da canção de Damis Climène se enamora...

Ré... mi... sol... si... lá... lá... Afectadas, fictícias,
Fluidicamente, as mãos arpejam as carícias...
-- Ui! que frívola eu sou! -- Oh! tão frágil não és...

E o indiferente, a sós, na pelúcia da brisa,
Violeta azul que em tons de opala se arcoirisa,
Gracilmente desfolha o coração de Agnès!

Schahrazade / Poesias Completas

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