SENTIMENTOS DE CONTRADIÇÃO,
E ARREPENDIMENTO DA VIDA PASSADA
Meu ser evaporei na lida insana
Do tropel de paixões, que me arrastava;
Ah! Cego eu cria, ah! mísero eu sonhava
Em mim quase imortal a essência humana;
De que inúmeros sóis a mente ufana
Existência falaz me não dourava!
Mas eis sucumbe a Natureza escrava
Ao mal, que a vida em sua orgia dana.
Prazeres, sócios meus, e meus tiranos!
Esta alma, que sedenta em si não coube,
No abismo vos sumiu dos desenganos:
Deus, oh Deus!... Quando a morte à luz me roube
Ganhe um momento o que perderam anos,
Saiba morrer o que viver não soube.
Retrato Próprio
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8 comentários:
ouch!! este poema é daqueles que é melhor não ler em dias de depressão
Para mim nem é isso. É a pouca musicalidade pouco «bocageana» de alguns dos versos, que destroem o ritmo todo. Ó Richard, não havia melhores?
Sim, é pesado, Lebre. Quanto à objecção, foi o último verso, Johnny.
Não, é mais o «Mas eis que sucumbe a Natureza escrava». Tem um ritmo de velório :)
Sorry, não completei: foi o último verso que me agarrou...
não me falem em velório que me lembro logo do Noivado do Sepulcro.
sim, sim, é trauma do liceu
Cheguei tão tarde! Só agora, via uma dessas blogocoisas para pesquisar o que anda nos blogs, a partir de uma pesquisa por "lida insana", tomei conhecimento de que o soneto estava aqui em exibição. Como ando para aqui à boleia desse soneto quase me senti uma usurpadora... mas é um facto que não o leio como arrependimento, ou pelo menos como arrependimento amargo; acho que há uma glória no tropel passado das paixões, dos prazeres sócios e tiranos, na crença da quase imortalidade da essência humana, nos inúmeros sóis, na alma que em si não coube. Não é de "vícios" que resulta o não ter sabido viver mas sim da condição humana que se encadeou nessa grandiosidade. E há, na minha opinião, uma nota redentora ou optimista (bom... moderadamente): seja o que for que isso significa, admite-se ainda aceder à sabedoria, depois de dose tão valente de "natureza humana". Acho isso razoavelmente optimista...
Concordo, Susana. Que leitura magnífica!
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