sexta-feira, outubro 07, 2005

Caracteres móveis #40 - Primo Levi

[Hermann Langbein] Escreveu numerosos livros, um dos quais é soberbo, «Hommes et Femmes à Auschwitz» onde evoca não apenas as condições de vida dos presos, mas também as dos outros, dos que viviam fora do campo. Eles também eram mulheres e homens, e os relatos que ele faz dos casos clínicos mais ou menos sérios dos SS parecem-me algo de novo, de importante e de raramente evocado. Ele mostra-nos como, num universo odioso, quase todos se comportavam sem, no entanto, serem monstros, poucos doentes mentais e torcionários, a maioria cumpria a disciplina com uma indiferença cansada. Não os encantava terem de matar pessoas, mas eles aceitavam-no, eram o produto de uma escola.

O Dever de Memória

(tradução de Esther Mucznik)

5 comentários:

João Villalobos disse...

Bem! O tema que foste buscar...O que sempre me impressionou foram casos como o Levi e o Bettelheim, que passaram pelos campos, se tornaram figuras prestigiantes nas suas áreas. mas se suicidaram no fim da vida. Não é estranho terem resistido a tanto para afinal serem derrotados pela culpa tão tarde na vida?

Ricardo António Alves disse...

A mim também me confrange. Acho que o Levi acabou por sentir uma certa inutilidade no seu testemunho para as novas gerações, aquela tragédia já lhes dizia pouco, e se calhar foi isso que o fez desistir...

lebredoarrozal disse...

tenho muito medo de estar a viver em tempos de indiferença cansada.
tenho, tenho

Anónimo disse...

No meu sítio, tudo faço para que não se esqueça. Mas quem sou eu para me fazer ouvir? Tal como a lebre diz, acho que vivemos "em tempos de indiferença cansada", o que é grave, muito grave. Um abraço e bom fim de semana

Ricardo António Alves disse...

É uma tragédia pessoal quando as circunstâncias nos tornam arautos de algo que, aparentemente, deixou de ser importante para as pessoas. E quando o que deixou de ser interessante foi aquilo que de mais maligno o ser humano conseguiu engendrar, os que tiveram a (des)dita de escapar ao estupor não suportam a condição de sobreviventes, pelo menos a sua exposição pública enquanto tal, como se de curiosidades de feira se tratassem. Acompanho por isso a Lebre e o JG no medo e na apreensão por este entorpecimento.