O jovem desaparecera por uma porta ao fundo, que rangera empenada. A velha adormecera encostada à mesa. Junto à máquina de costura, voltada agora para a luz, a outra mulher costurava em silêncio. André não conseguia distinguir-lhe o rosto. Apagada na sombra do lenço, só de quando em quando lhe dava com os olhos a luzir na sua direcção, para logo fugirem de novo. Retinha a ideia do rosto da mulher desfigurado pela cólera e sentia o vago desagrado de estar a seroar com uma megera. Apenas as mãos da mulher o surpreendiam. Eram umas mãos mimosas e claras, cujos dedos se moviam, despertos e hábeis, na costura.
Cinco Dias, Cinco Noites
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