terça-feira, dezembro 24, 2024

o que vai acontecer

«-- Mestre Romão lá vem, pai José, disse a vizinha. / -- Eh! eh! adeus, sinhá, até logo. / Pai José deu um salto, entrou em casa, e esperou o senhor, que daí a pouco entrava com o mesmo ar do costume. A casa não era rica naturalmente; nem alegre. Não tinha o menor vestígio de mulher, velha ou moça, nem passarinhos que cantassem, nem flores, nem cores vivas ou jucundas.» Machado de Assis, «Cantiga de esponsais», Histórias sem Data (1884)

«A casa grande de Manel Libório quase se encostava à toca negra de Melo Bichão. Saía-se à porta, dobrava-se a esquina, e ficava-se de caras para o aprisco. Um aprisco que nem palácio, amplo e todo coberto, onde as ovelhas felizes do vizinho rico baliam alegres da fartura, que Manel Libório tinha pasto seu e muitos braços para lho juntarem em casa.» Mário Braga, «A balada», Serranos (1949)

«Chamava-se Alfredo e usava uma perna de pau. A Alice tivera curiosidade em ver como um homem daqueles amava. Porém até nisso a sua vida foi um erro. Ele, à noite, tirava a perna de pau e guardava-a debaixo da cama.» Miguel Barbosa, «A dança», Retalhos da Vida (1955)

1 comentário:

Manuel M Pinto disse...

« 3 de Maio de 1876
Meu caro visconde
Já me vou levantando da cama com uma perna no ar. Plasticamente estou bastante ridículo. Não te invejo as alegrias tolas da tua Lisboa... »
"Camilo Íntimo-Cartas inéditas de Camilo Castelo Branco ao visconde de Ouguela" - Clube do Autor, SA (2012)