«Jantava sempre pouco, e acabava fumando tabaco de onça. Reparava extraordinariamente para as pessoas que estavam, não suspeitosamente, mas com um interesse especial; mas não as observava como que perscrutando-as, mas como que interessando-se por elas sem querer fixar-lhes as feições ou detalhar-lhes as manifestações de feitio. Foi esse traço curioso que primeiro me deu interesse por ele.» Fernando Pessoa, O Livro do Desassossego por Bernardo Soares (póst., 1982)
«Sob estas capas de vulgaridade há talvez sonho e dor que a ninharia e o hábito não deixam vir à superfície. Afigura-se-me que estes seres estão encerrados num invólucro de pedra: talvez queiram falar, talvez não possam falar.» Raul Brandão, Húmus (2017)
«Muito seu continua o jeito de como ao falar cerra os olhos em duas fendas chinesas, antes risonhas, agora insondáveis. / Sentado na relva à sombra dos castanheiros, o cajado entre as pernas, os cães dum lado, eu do outro, o rebanho espalhado pela ladeira, o murmúrio da água, o tilintar dos chocalhos.» J. Rentes de Carvalho, A Amante Holandesa (2003)
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«... E quanto a fidalguia, (Camões) nos percalços que sofreu e de que são testemunho insofismável os documentos trazidos a lume pelo visconde de Juromenha, jamais se vislumbra a mão enobrecida de algum parente interferindo por ele. Nem em Lisboa nem na Índia. Devia tratar-se de linhagem muito abaixo da meia-tigela a sua ou do ramo plebeizado, para assim ser lançado à margem.»
Aquilino Ribeiro, "Luís de Camões-Fabuloso*Verdadeiro". Ensaio (1950)
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