terça-feira, setembro 17, 2013

não são sãos

...e os operários também não são sãos. Serafim, fisicamente comprido e corrompido, derreado e esverdeado: "o longo dorso alcachinado, onde, escorchadas com anatómico rigor, as omoplatas cavavam esqueléticas sombras"; Clara resistindo à decadência física, ("os seus olhos lutando ainda contra a consumpção, cujo triunfante estrago se anunciava já"), mas irremediavelmente condenada.
Repasto frugal, evoco Picasso, mas é em Van Gogh e n'Os Comedores de Batatas que penso, ao percorrer as linhas desta traparia humana, deparando-me com as palavras soturnas na pouca luz da cena, que um frio húmido a anunciar chuva ainda mais deprime: "A luz titubeante da candeia estirava num realce cruel todos estes sinais patentes de ruína".

Amanhã, de Abel Botelho (1901) #3
Porto, Lello & Irmão, 1982, p. 11.

Sem comentários: