Serafim e o
Esticado vão recolhendo os companheiros para a reunião nocturna. Miséria material, miséria moral: não apenas a rapariga ainda
núbil, esgalgada, anémica,o cabelo raro e sem brilho, em casa do
Manaio, gasta e avelhentada; ou as três mulheres do Silvério, todas
com ar de família,
que se disputam indecorosamente pelas sobras que este lhes dará para sustento dos seus filhos,
seis criancitas, todas quase da mesma idade, que refocilavam nuas, no abandono e na fome; -- mas Ventura, que, ao encontro, prefere ir ao assalto a uma menina dos fósforos:
«[...] hoje tenho lá coisa... daqui! -- Premia lascarinamente o lóbulo da orelha, e explicava, a seguir: -- Uma petizita dos Fósforos... em primeira mão, dizem... Anda a meter-se-me à cara, mesmo perdidinha por mim! / Não te dói a consciência, meu traste? / --Então! Se há-de ser outro... / -- O diabo te dê o que te falta! -- resmoneou o
Manaio, enfadado. / -- Ah, por enquanto, não falta, não... graças a Deus!»
Abel Botelho, Amanhã (1901) #7
Porto, Lello & Irmão, 1982, pp. 26-32.
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