Penso que há uma importante distinção a fazer entre religião e espiritualidade. Considero que religião diz respeito à crença numa forma de salvação específica a cada tradição, um aspecto dessa religião consiste na crença numa realidade metafísica ou sobrenatural que inclua, por exemplo, a noção de céu ou de nirvana. Ligam-se a ela os ensinamentos religiosos ou dogmas, os rituais, a oração, etc. Considero que a espiritualidade diz respeito ao cuidado a ter com as qualidades do espírito humano como o amor e a compaixão, a paciência, a tolerância, o perdão, o contentamento, o sentido da responsabilidade e da harmonia, que trazem felicidade para si e para os outros. O ritual e a oração, bem como o nirvana e a salvação, estão directamente ligados à fé religiosa mas estas qualidades interiores não. Por conseguinte, não há razão para que um indivíduo não as desenvolva, mesmo num grau elevado, sem depender de qualquer sistema religioso ou metafísico. É a razão pela qual afirmo, por vezes, que talvez possamos dispensar a religião. Mas o que não podemos é dispensar estas qualidades espirituais básicas.
Ética para o Novo Milénio
(tradução de Conceição Gomes e Emília Marques Rosa)
4 comentários:
Palavras de grande sabedoria! Clareza e espírito positivo.
Não, jamais deveremos dispensar tais qualidades! Concordo inteiramente.
Não é comum ler um líder religioso que encara a possibilidade de ser dispensável...
Li o texto com o som de Isaac Albéniz, e dei-me conta do quanto é importante podermos escolher alimentar a espiritualidade, sem termos de escolher a religião.
E que apesar de grandes podemos ser dispensáveis,porque o que importa é o fomos semeando e não o que fomos comendo.
Não faço ideia se o Albéniz era crente, mas há naquela música uma intensa espiritualidade.
Obrigado, Grande Jóia, por esta associação...
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