domingo, julho 15, 2007

Antologia Improvável #241 - Luís Adriano Carlos

NITROGLICERINA

Um queixume febril enrola-se-me no corpo
como tiros de um vento alucinado, são 25
horas da tarde em cada nitrato de poema,
queixume subterrâneo de fictícios braços.

Projecta-se o recorte laminar nos porões barrocos
da tua mão que escreve com monstruosos lápis
de falésias sobre o mar na velha fotografia.

Jantaremos velas românticas a meio do restaurante.
Sonharemos galeras de sal e sangue no tempero da refeição.
Inventaremos um vendaval secreto por debaixo da mesa.

Pelas veias as velas e as selvas rasgam profundos vales:
adorei passear com as tuas janelas verdes, e lanço
beijos trovadorescos para os teus seios marítimos
até ao coração. O poema é por momentos
o nosso cardiograma.

Adeus, prometo escrever-te com regularidade
antes do regresso heróico das galés portuguesas
às praias desertas da tua excitação sexual.
Levo colunas de sonhos vermelhos, aluviões
de sangue que nos dedos apenas tremem como lagos,
holofotes de Molière sobre o meu dia adiado
enquanto o sangue escorre das areias para o pulmão.

Adeus, deixo-te a minha partida por fim todas as manhãs
à hora do noticiário, good-bye, my sweet friend,
I'll write you again sentado nos rochedos
de um epitáfio celeste. Adeus.


A Mecânica do Sexxo XXI

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