«O povo rude de Carteia não podia entender esta vida de excepção, porque não percebia que a inteligência do poeta precisa de viver num mundo mais amplo do que esse a que a sociedade traçou tão mesquinhos limites.» Alexandre Herculano, Eurico o Presbítero (1844) - «Por quantas maldições e infernos adornam o estilo dum verdadeiro escritor romântico, digam-me, digam-me: onde estão os arvoredos fechados, os sítios medonhos desta espessura?» Almeida Garrett, Viagens na Minha Terra (1846) - «O amor dos quinze anos é uma brincadeira; é a última manifestação do amor às bonecas; é a tentativa da avezinha que ensaia o voo fora do ninho, sempre com os olhos fitos na ave-mãe que a está da fronde próxima chamando: tanto sabe a primeira o que é amar muito, como a segunda o que é voar para longe.» Camilo Castelo Branco, Amor de Perdição (1862) - «Henrique nem desviara os olhos para o fundo do vale, que se lhe abria à esquerda, velado pela densa névoa daquela atmosfera saturada de humidade, nem prestava atenção à agreste e selvática paisagem, do lado direito, toda encrespada de pinheirais nascentes e de espinhosas tojeiras.», Júlio Dinis, A Morgadinha dos Canaviais (1868) - «Toda a intelectualidade, nos campos, se esteriliza, e só resta a bestialidade.» Eça de Queirós, A Cidade e as Serras (semi-póstumo, 1901)
correspondências
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(*Ferreira de Castro a Roberto Nobre*) *«Roberto *Nobre, meu prezado amigo:
/ Recebi a sua carta, carta amável, generosa. / Como já o Assis lhe disse,
go...
Há 24 minutos
2 comentários:
«À memória de minha Mãe,
humilde, boa e religiosa sem ser pelo interêsse de ganhar o Céu.»
«..Nós, os Portugueses, vemos escoar anos após anos com a mesma búdica serenidade ou impedernida indiferença com que os moradores ao pé dos cemitérios vêem desfilar os funerais.
Seja bem, seja mal, é verdade insofismável que para uma boa data de portugueses “a grande ocupação é matar o tempo”. Matá-lo ali, à fina força, como inútil que é, pegamaço que corre mais devagar que marreco num pântano. Creio mesmo que tal heresia é privativa da nossa língua.
Ora para uns poderem matar o tempo, forçoso é que outros se matem a moirejar a vida. Portugal reparte-se assim em dois hemisférios sociais: uns afadigados a não fazer coisa nenhuma, os outros derreados a labutar, fartos de cuspir às mãos – o termo é sujo, mas é deles, dos escravos –, regidos ainda pelo ritmo que, diz a Bíblia, vem do anátema original. Com esta categoria de gente a uma banda: os parasitas de luva e polaina, os pisa-flores, os filhos-família ociosos, os artistas da falcatrua, milionários, plutocratas, mandarins da política, turgescências do mesmo rizoma, de cócoras diante da ampulheta a ver quando se escoa a areia; a outra: os cavadores e os homens de profissão, extenuados na sua mediocridade – como associarem-se às festas da "Folhinha", ainda mesmo quando ordena a Santa Madre Igreja e se seja cristão e confessado?»...
Aquilino Ribeiro Lisboa, Outono de 1945 O LIVRO DO MENINO DEUS
Menos cavadores, mais consumidores; entre o retrocesso e o progresso de 1945 para cá, o saldo é, apesar de tudo, positivo. O copo meio cheio...
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