sexta-feira, fevereiro 11, 2022

a Ucrânia e os "comentadores"

 Quando um tipo decentíssimo como comentador, porque culto e informado como poucos, não alinhou pelo argumentário oficial na questão da Iugoslávia, refiro-me ao malogrado Carlos Santos Pereira, passou a emprateleirado e ausente, porque não era um papagaio como a maioria dos seus colegas. Quem não se lembra do inefável José Rodrigues dos Santos, esganiçado, a abrir um Telejornal em pranto: "Boa noite, os campos de concentração voltaram à Europa!"... Seguia-se imagens de um campo de prisioneiros de guerra muito magros, é certo, croatas ou bósnios-muçulmanos, já não me recordo, com a evidente e grosseira mensagem subliminar: "campos de concentração = nazis, logo sérvios = nazis", propaganda que servia a quantos fizeram aquela embrulhada na Bósnia-Herzegovina (ao fim destes anos, a tropa estrangeira lá continua para que não se matem), sem falar na vigarice do Kosovo. Outro observador independente e de grande nível, Pezarat Correia, foi convenientemente esquecidp, pelas mesmas razões.

Hoje raramente há jornalistas como Santos Pereira; ou são analfabetos funcionais ou nem se ralam com o que papagueiam. Mas não só os jornalistas. Tenho visto e ouvido comentadores que são outras nódoas, a propósito do caso da Ucrânia. Boa parte nem é por ignorância, mas porque gostam que quem detém o poder oiça o que eles, domesticados, dizem; outros há movidos a puro preconceito, não afastando a possibilidade de haver quem esteja a ser pago -- em dinheiro ou em géneros -- para veicular as posições norte-americanas. Em resumo, um vómito nauseabundo.

As últimas que tenho visto são as imbrincadas explicações para a deslocação de Macron à Rússia, cuja a análise se centra na proximidade das eleições presidenciais em França, e as tácticas do inquilino do Eliseu em face da Le Pen e do outro vigarista que disputa com esta a extrema-direita. Que sofisticação de análise que estes cretinos querem exibir, esquecendo-se que a situação tal como está, em que ninguém acredita na possibilidade de uma guerra, porque seria devastadora, é perigosamente real. Basta haver provocações ou descontrolo. Mas para além das jogadas de Macron, ficámos a saber que ele e Putin beberam Chardonnay à refeição.

Para minha surpresa, vi há pouco na RTP3 o major-general Carlos Branco, para quem j+a chamei a atenção. Escreve no Jornal Económico, e vale imenso a pena ler a sua última crónica: «Por quem os sinos dobram em Kiev». É lê-lo (e agora ver e ouvi-lo, enquanto deixam), não ligar aos analfabetos funcionais que apresentam as notícias, e muito menos à miséria de comentadores da treta, que se limitam a reproduzir a conversa do Pentágono e da cúpula da NATO.

P.S. Obviamente que Macron avança com uma solução à finlandesa, porque não há outra que possa dispensar os tambores da guerra. Os Estados Unidos e os que por estes são mandados, discordam. Se não fosse triste e potencialmente trágico, daria vontade de rir.

P.S. 2. O presidente da Ucrânia -- sobre o qual não tenho opinião, por desconhecimento -- tem-se mostrado bastante apaziguador e à procura de uma solução diplomática. Ele sabe que serão os primeiros sacrificados se a rapina norte-americana forçar a guerra.

P.S. 3 Quando esta criatura do Biden foi eleita eu escrevi aqui que os problemas iriam começar rapidamente. Aliás, via-se como a harpia da Hillary Clinton estava cheia de vontade. Eles aí estão.

P.S. 4 Ler e ouvir Carlos Branco é ao mesmo tempo refrescante, mas também assustador. São os nacionalistas neo-nazis, com muitas conivências internas e cumplicidades externas que estão no leste da Ucrânia. Pode ser que façam o jeito aos tipos que mandam no cheché americano, e comecem a abrir fogo contra a população e milícias de origem russa que vivem no Donbas. E aí a Rússia não deixará de intervir. De que modo? Cá estaremos para ver. E depois?, sabe-se como acaba? 

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