segunda-feira, novembro 14, 2016

que União?


O texto de Jorge Sampaio sobre a UE, publicado no Público de hoje é um grito lancinante sobre o estado moribundo daquela. Pese todo o voluntarismo optimista de puro bom senso que demonstra, a crua realidade duma União virada para os particularismos nacionais, que, receio bem, provocará a sua destruição Daí a "impotência decisória" de que fala Sampaio:


Se já era difícil a União Europeia ter uma política externa comum, no tempo em que tudo parecia um conto de fadas, hoje é impossível que tal aconteça, em face das divisões internas, e da assunção já clara dos interesses de cada país, tantas vezes não coincidentes e contraditórios.


Aa palavras não podiam ser mais sábias, porém, quando se humilhou desnecessariamente a Grécia e, em certa medida, também Portugal; quando se depara com a existência no seio da UE, de grupos como o de Visegrad, albergando governos incivilizados, como os da Hungria ou da Polónia, sem que sejam chamados à pedra, como é possível sequer falar de uma "identidade partilhada", quanto mais tentar  o seu fortalecimento? Que afinidades entre governos como o português, o grego ou o italiano e os congéneres racistas, xenófobos, quando não pró-fascistoides das hungrias e das polónias? -- só para falarmos nos casos extremos, e deixando de fora, por enquanto, finlândias e holandas...


O que se passa com a Rússia é demasiado mau para ser verdade, arrastando-nos para uma lógica confrontacional que nada tem que ver com os interesses europeus, e muito menos portugueses. Até porque a lógica do confronto, se pretende meter medo à Rússia só a vai acicatar, isolando-a dos parceiros ocidentais, com quem tem as maiores afinidades civilizacionais. Crer, como aparentemente sucedia com Clinton, que fazer peito a Putin seria aceitável do ponto de vista estratégico, é duma temeridade sem nome, para além de ter uma eficácia perto de zero. Os russos já fizeram questão de lembrar, ainda durante a campanha presidencial americana, que não recebem ordens do Estados Unidos -- aliás, uma boa indirecta para alguns governos europeus; e, por outro lado, quase dá vontade de rir, quando em face do desafio de alguns governos ocidentais, a Rússia se reúne em cimeira com a China e a Índia (o Brasil e a África do Sul, potências regionais, são dois penduricalhos para enfeitar). Espero que o negregado Trump entre rapidamente em distensão com Putin (e, já agora, que rasgue, mesmo que pelos maus motivos, o clandestino Tratado de Comércio Transatlântico, que os Estados Unidos andaram a preparar com os burocratas e homúnculos políticos europeus, nas costas dos cidadãos.

O texto do antigo PR, não é, de modo nenhum optimista. É um alerta importante, que corre o risco de chegar demasiado tarde (embora nunca seja tarde para o bom senso) -- a não ser que em postos-chave como a Alemanha, a França, a Itália (a Inglaterra já disse adeus, não é?...) e vários países de pequena ou média dimensão, como Portugal, repensem e reajam, como defende Sampaio, que, no entanto, acaba, a meu ver, por entrar em contradição, quando sustenta que, as "alteraç[ões] dos equilíbrios geopolítico-estratégicos exigir[ão] reflexão aprofundada do nosso lado, realinhamentos e reposicionamentos diplomáticos e de política externa que convém prepararmos atempadamente."

Sendo assim, que União?...

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