terça-feira, dezembro 02, 2025

o que está a acontecer

«I. Ainda os membros dispersos do cadáver de Domingos Leite Pereira apodreciam nos postes, quando saiu uma procissão de triunfo a desempestar especialmente as Ruas dos Torneiros e da Fancaria.»  Camilo Castelo Branco, A Filha do Regicida (1875)

«Um silêncio súbito, silêncio da terra. Só vozes ermas dos campos, ouço-as no calor parado da tarde. Reparo agora melhor no pequeno jardim. Uma selva bravia. As plantas selvagens irromperam de todo o lado, aos cantos dos muros à volta, junto à casa. Há algumas armações de madeira ainda, já apodrecidas, suspensas de arames, sem flores.» Vergílio Ferreira, Para Sempre (1983)

«Fez-se um silêncio de expectativa risonha. E o professor, debruçando sobre a secretária os bigodes pendentes e amarelados, perguntou-lhe: -- Quais regras da ciência? -- E ele, entreabrindo os lábios finos que nunca se sabia quando sorriam ou se apertavam de contrariedade, respondeu: -- A observação e a experimentação. -- Ah, muito bem, e como foi que o senhor observou e experimentou a alma dos animais? -- Como, senhor doutor? Pessoalmente --. E foi uma gargalhada geral.» Jorge de Sena, Sinais de Fogo (póst., 1979)

1 comentário:

Manuel M Pinto disse...

«Também ninguém, salvo o Pe. José Agostinho, dissentiu que os Lusíadas, antes de serem o melhor nobiliário do nosso povo, foram o tombo léxico e filológico da língua. Quer dizer: Luís de Camões, ao tempo que lavrava as suas delicadas ou robustas filigranas, ia fundindo o respectivo ouro.»
Aquilino Ribeiro, "Luís de Camões - Fabuloso*Verdadeiro". Ensaio (1950)