Não fora a covid-19 e estaríamos todos nas tintas para a situação dos trabalhadores imigrantes no Alentejo, como nos estamos a ralar para os malefícios da agricultura intensiva. Queremos o nosso conforto à mesa; conforto de sociedade ocidental rica e esbanjadora, capitalista e selvagem; os proprietários querem facturar, o mais possível e ao mais baixo custo, que esta é a bonita natureza das coisas. Para tal, recorrem a empresas de trabalho temporário, que deveriam ser proibidas, pelo menos nestes moldes. E os governos querem que tudo siga na "normalidade", sem grandes ondas.
Com excepção das associações de defesa dos imigrantes ou dos poucos cidadãos com espírito cívico, estamo-nos todos a marimbar para as condições dos nepaleses de Odemira; a não ser quando nos toca a nós também. Bolas, também podemos morrer com a covid, que os gajos, amontoados em contentores (como todos sabíamos) podem espalhar.
Quando os industriais, no século XIX, desataram a fazer bairros operários, foi porque perceberam que também eles eram vulneráveis às doenças contraídas pelos trabalhadores que exploravam à laia de negreiros; não por humanismo, que sentimentos desses são só para alguns.
Encerro com uma música do Fausto, um clássico, dedicada a todos os patrões, especialmente os das empresas de trabalho temporário: O Patrão e Nós, com a diferença de que aquele nós não é connosco, que de há muito estamos do lado do patrão; o nós agora é para os imigrantes.
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