«Janela aberta sobre o mundo. Coado, o som do trabalho, do suor. Quase irreal, ali. Procuro e não encontro essa voz. Sereias trazendo notícias de desastres em terras quase sem nome e até de afogados já frios descansando em leitos de algas marinhas. Eu, lá fora. Onde? Os eléctricos estoiram nas calhas e deixam estrelas fugazes nos cabos que enredam a cidade. Teu rosto, a tela queimada para lá da vidraça. Olhos vazios como os meus. Esquecidos algures, no tempo. Eram.. quase azuis, fluidos nas emoções. Luminosos quando irados.»
Vasco Branco (1919-2014), Os Generosos Delírios da Burguesia (1980)
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