quarta-feira, outubro 02, 2019

os agentes de vigilância e de defesa do estado do politicamente correcto

Quem me conhece ou costuma passar por aqui sabe que sou profundamente anti-racista e anti-xenófobo, que prezo a dignidade individual como o bem maior que uma comunidade cidadãos deve garantir a todos e cada um dos seus membros; ou de como gosto de evocar uma bisavó brasileira mulata que não tive a sorte de conhecer, originária de Pernambuco, e certamente descendente de escravos africanos.


Em Inglaterra, pelo que sei, a sanha do politicamente correcto é exercida com acutilância e estupidez agravada. Lembro-me do episódio da remoção imbecil dum quadro pré-rafaelita, creio, das paredes dum museu; ou dum inacreditável episódio que me contou um aluno, em que a associação de estudantes da sua universidade  recomendou que no halloween ninguém se mascarasse de índio ou cowboy, porque tal teria um significado pejorativo de apropriação cultural... A última foi este episódio que envolve Bernardo Silva e o seu amigo e colega de equipa Benjamin Mendy, com a federação inglesa a fazer o papel de idiota de turno.


Há muito que a liberdade está condicionada pelos censores do politicamente correcto -- expressão que odeiam, pois desmascara-lhes a fachada pretensamente liberal (quando não libertária...), estraga-lhes o disfarce de alegada irreverência. Mas de liberais ou libertários não têm nada; não passam de moralistas, no pior sentido do termo.


Quem me conhece e costuma passar por aqui também sabe da minha impaciência para com a desonestidade, a preguiça intelectual e os comportamentos de manada. É um dos meus traços de carácter, além de um especial prazer em afirmar que o rei vai nu, quando tal se me afigura. Parece-me que a esquerda pensante, por cobardia, comodismo, incapacidade (o costume) deixou-se capturar pelos sacerdotes e sacerdotisas do politicamente correcto, com pulsões autoritárias, claro, e acolitados pelos idiotas úteis, como sempre.


A uma dessas sacerdotisas que se arrogou a faculdade de dizer quem era de esquerda ou não nas páginas de um jornal, deve dizer-se que ser de esquerda é defender a liberdade e a dignidade individuais, com tudo o que isso significa (para bom entendedor...); e que quem tem vocação para policiar os comportamentos alheios e formatar a maneira de pensar, não tem nada de esquerda, de liberal, nem democrata, mas antes vocação para agente de segurança.

E já agora, como me situo à esquerda, pese o meu conservadorismo (que também acarinho), convém dizer que um dos combates dos próximos anos será pela liberdade, simplesmente.

2 comentários:

sincera-mente disse...

Ma(i)nada!!!
De repente, uma nova civilização, desta vez, não construída, mas imposta...
Abraço!

R. disse...

Outro!