quarta-feira, outubro 04, 2017

Felipe VI, e talvez o último

O rei de Espanha colou-se ao governo espanhol na sua alocução de ontem. Tinha alternativa? Não sei. O tempo de lidar com a questão que viria, inevitável, foi sempre protelado pelos dois principais partidos espanhóis, PP e PSOE. Quando este último avançou com a hipótese de um estado federado -- única e penúltima possibilidade de preservar uma entidade política artificial que só subsistiu pela força (o referendo de constitucional de 1978, foi um plebiscito à transição democrática)  --, já era demasiado tarde para travar os independentistas catalães.

Digo penúltima, porque a única maneira de preservar a Espanha será permitir que as suas nacionalidades referendem a integração, sem truques: isto é: são os catalães que devem decidir do seu destino e não os castelhanos, os bascos ou os galegos. Não sendo constitucionalista, afigura-se-me um processo complexo e moroso, uma vez que teria de apurar-se de que falamos quando falamos em nacionalidades. Catalunha, Galiza e País Basco, claro. E a Comunidade Valenciana? e Navarra? e as Astúrias? A desaceleração do processo implicaria o compromisso solene do poder central, a começar pelo rei, de que respeitariam os resultados dessas consultas populares.

Promessas que já não se me afiguram suficientes nesta fase. Que o processo catalão já não voltará atrás, a não ser que os tanques invadam Barcelona, parece-me evidente. Como os tanques não invadirão Barcelona, suponho (Espanha é um país da União Europeia, apesar de tudo), a desagregação será inevitável. Os bascos, que já punham a cabeça em água aos romanos, esperam.

Felipe VI não parece, portanto, ter saída, mesmo que o quisesse; qualquer rasgo será muito difícil para a sobrevivência do trono. O monarca corre o risco de ser o sétimo Bourbon (Borbón) a abdicar ou deposto ou -- entrando no domínio da fantasia -- a mudar a chapa para Felipe I de Castela.

6 comentários:

mensagensnanett disse...

O nazi Rajoy não suporta a existência de outros.
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É A LUTA PELA LIBERDADE QUE ESTÁ EM CAUSA: é preciso dizer não aos hitlerianos que não suportam a existência de outros; leia-se: separatismo-50-50.
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Explicando melhor:
---»»» Todos Diferentes, Todos Iguais... ou seja, todas as Identidades Autóctones devem possuir o Direito de ter o SEU espaço no planeta -» inclusive as de rendimento demográfico mais baixo, inclusive as economicamente menos rentáveis.
-» Os 'globalization-lovers', UE-lovers e afins, que fiquem na sua... desde que respeitem os Direitos dos outros... e vice-versa.
-» blog http://separatismo--50--50.blogspot.com/.
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Nota 1: Os Separatistas-50-50 não são fundamentalistas: leia-se, para os separatistas-50-50 devem ser considerados nativos todas as pessoas que valorizam mais a sua condição 'nativo', do que a sua condição 'globalization-lover'.
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Nota 2: É preciso dizer NÃO à democracia-hitleriana; isto é, ou seja, é preciso dizer não àqueles que pretendem democraticamente determinar o Direito (ou não) à Sobrevivência de outros.
[obs: nazi não é ser alto e louro, blá, blá... mas sim, a busca de pretextos com o objectivo de negar o Direito à Sobrevivência de outros]
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NACIONALISTAS EUROPEUS: Retirem as palas de burro que têm enfiadas na cabeça!
Leia-se: reconheçam que o problema é global: QUALQUER POVO AUTÓCTONE do planeta que queira ter o SEU espaço no planeta, que queira sobreviver pacatamente no planeta, que queira prosperar ao SEU RITMO... corre sérios riscos de levar com um genocídio em cima!
Um exemplo: em pleno século XXI tribos da Amazónia têm estado a ser massacradas por madeireiros, garimpeiros, fazendeiros com o intuito de lhes roubarem as terras... muitas das quais para serem vendidas posteriormente a multinacionais (uma obs: é imenso o património no Brasil que tem estado a ser vendido à alta finança).
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É NECESSÁRIO MOBILIZAR RESISTENTES AUTÓCTONES DO PLANETA PARA O SEPARATISMO!
(manifesto em divulgação, ajuda a divulgar - é necessário um activismo global)
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UM PROBLEMA GLOBAL -» mercenários (ao serviço da alta finança), aspirantes (a donos-disto-tudo) e penduras (lambe-botas) estão impregnados de hitlerianismo: não suportam a existência de outros!
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Os MERCENÁRIOS ao serviço da alta finança (capital global) trabalham para a eliminação de fronteiras: a alta finança ambiciona terraplanar as Identidades, dividir/dissolver as Nações para reinar...
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Os mercenários gostam de evocar (como se tal fosse o único valor existente no planeta) que o SEPARATISMO vai provocar problemas económicos.
Na sua cegueira anti-Trump (tocou no tema-tabu -» fronteiras), os mercenários chegaram ao ponto de andar a evocar a imigração para a América... quer dizer, ao mesmo tempo que eles andam por aí a acusar povos de deixarem 'pegada ecológica' no planeta, em simultâneo, os mercenários revelam um COMPLETO DESPREZO pelo holocausto massivo cometido sobre povos nativos na América do Norte, na América do Sul, na Austrália, que (apesar de serem economicamente pouco rentáveis) tiveram o «desplante»... de quererem ter o seu espaço no planeta, de quererem sobreviver pacatamente no planeta, de quererem prosperar ao seu ritmo.
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ASPIRANTES: pessoal dotado de uma elevada taxa demográfica... ambiciona/aspira ser dono-disto-tudo.
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PENDURAS: na Europa existem muitas comunidades nativas penduras -» não trabalham para a sustentabilidade da sociedade (média de 2.1 filhos por mulher)... penduram-se na boa produção demográfica de outros!
[e mais, os penduras ao mesmo tempo que são contra a repressão dos Direitos das mulheres, em simultâneo, são uns lambe-botas da boa produção demográfica daqueles que tratam as mulheres como 'úteros ambulantes' - exemplo: islâmicos]
{Os penduras são uns lambe-botas dos aspirantes a donos-disto-tudo e da alta finança}

J.Tavares de Moura disse...

Assino por baixo.

Jaime Santos disse...

Os tanques não precisam de entrar na Catalunha para que a independência aborte, embora eu ache que este risco existe porque Rajoy e Filipe, o Breve, parecem suficientemente estúpidos para tentar essa prova de força.

Bastaria um bloqueio económico ao território, que a UE teria que secundar porque o respeito pela integridade territorial dos Estados tal como existem faz parte dos tratados e a Catalunha se teria colocado à margem da Lei. Corte o financiamento aos bancos catalães (que já nem sequer se situam num País da UE, segundo os catalães) e deixe que os euros deixem de correr em Barcelona e vai ver quanto tempo demora a que aquilo colapse tudo.

E não me diga que a UE não é capaz disso. Já o fez e para punir um atrevimento bem menor, o dos gregos de reduzirem um pouco a austeridade. Aqui trata-se de separatismo que não é só um problema espanhol...

A única solução é a negociada. Se Puidejmont declarar a independência na Segunda-Feira, mostra que compõe bem o ramalhete juntamente com Rajoy e El Rey. Claro, os ânimos estão tão exaltados que nestas situações normalmente se vai de escalação em escalação até à derrota final...

Nestes tempos que são os nossos em que os Países são tão interdependentes, usar de força militar para esmagar uma revolta independentista não seria apenas um crime. Seria um desperdício de esforços e péssima publicidade (haveria logo quem reconheceria o novo Estado em protesto pela violência). O garrote financeiro é bem mais capaz...

Pode ser que claro eu me engane e mesmo que isto aconteça, os catalães sejam capazes de unir esforços para resistir a um tal bloqueio. Mas, sinceramente, duvido. Hoje ninguém está mais habituado a provações, nem tem treino militar. Já não falámos da gente que marchou ao lado de Orwell...

R. disse...

Meu caro, como já lhe disse, o porta-moedas é o que menos interessa aos independentistas, ou até aqueles que não o sendo, como é seu direito, têm algum amor-próprio. Aliás, eles sabem que têm de sair da UE e que irão contar com a animosidade espanhola, se a Espanha se aguentar, durante uns bons anos, na forma de veto.

Eu também acho que a melhor solução é a negociada. Dizem que a Igreja está a trabalhar nisso. Oxalá. No entanto, ninguém acredita que tudo fique como está, pela simples razão que tal já não será possível. Daí que me pareça que só garantias solenes e firmadas possam já evitar o que parece inevitável.

Eu até admito que alguns eurocratas concebam essa ideia peregrina do garrote financeiro, mas certamente ainda haverá políticos e diplomatas da velha escola que lhes expliquem que 'isto' não é uma questão Catalunha versus o resto da Espanha, é muito mais complexo.

Jaime Santos disse...

Certamente, o porta-moedas é o que menos interessa aos independentistas, e o mesmo se passa com os nacionalistas espanhóis em Madrid e em outros sítios. Mas não seja tão lesto a criticar quem considera que a questão económica é relevante nesta matéria. Se a discussão se fizesse em moldes racionais, como aconteceu no Quebeque e na Escócia (mas para isso teria que existir acordo sobre uma consulta), as matérias económicas fariam seguramente parte dos argumentos pela independência e contra ela (de lembrar que os independentistas criticam a contribuição que a Catalunha faz para o resto da Espanha, aliás). Que tais questões sejam nesta altura completamente secundárias mostra apenas quão os ânimos estão extremados...

E, como já lhe disse, pela nossa parte, devem ser sobretudo os interesses da nossa população, incluindo os económicos, que devem ditar a ação do nosso Governo, na minha modesta opinião (isto é real politik pura, mas foi também para isso que votei neles).

Mas o meu ponto não é esse. O meu ponto é que com amor próprio ou falta dele, duvido que os catalães sejam capazes de resistir a um embargo económico, porque tudo isto parece feito de maneira casuística. Numa luta não interessa quem tem razão, interessa quem tem mais força. Se há coisa que não falta aos gregos é amor próprio e coragem e Tsipras acabou a comer à mão de Merkel (e aí os argumentos económicos foram bem relevantes, note-se).

No momento em que houver uma declaração unilateral de independência, Madrid terá que agir. Não discuto se a ordem vigente é justa ou injusta, legítima ou ilegítima, mas é a que existe. Se Rui Moreira amanhã declarasse por absurdo a independência do Condado Portucalense, como sugeriu alguém aqui aparentemente, o MP mandaria prendê-lo por sedição. E, por amor de Deus, não me venha dizer que é uma má comparação. Claro que o é, na nossa opinião conjunta, porque o Norte de Portugal não é uma nação, mas os espanhóis também não acham que a Catalunha o seja (foi por isso que as mudanças ao Estatuto Autonómico foram chumbadas pelo TC Espanhol).

E aí Rajoy vai certamente suspender a autonomia, mas o problema aparecerá quando a Polícia Nacional se preparar para prender os secessionistas como lhes exigirá o MP Espanhol. Seguramente que a população de Barcelona sairá à rua para os defender, mas o que ocorrer a partir daí é que é perigoso. Se houver violência, os independentistas terão ganho a parada, mas a que preço? Mas Madrid pode declarar que em face da atitude secessionista da própria população, lhes impõe um embargo económico. Não sou jurista, mas não vejo nenhuma razão pela qual tenham que continuar a fornecer Euros aos bancos catalães ou eletricidade à Catalunha (aparte razões humanitárias neste último caso).

E a UE faz o quê se Madrid não violar nenhuma Lei nem reprimir violentamente a resistência pacífica? A legalidade 'statuo quo', que é o que conta para Bruxelas (ou para nós), estará do lado de Madrid... Por isso é que eu acho que Puigdemont se vai calar bem caladinho (se for mais inteligente que Rajoy e El Rey) e tentar obter apoios internacionais para uma solução política como defendido por Antich. Pode, claro, comportar-se como um sonâmbulo que leva a sua gente para o precipício em nome do amor próprio. Já tem acontecido noutros momentos da História...

R. disse...

É claro que é relevante; o que digo é que, sendo-o, também é secundaríssima para os catalães que querem livrar-se de Madrid. E nunca como agora esse desígnio esteve tão ao alcance.

Ao contrário do que diz e do que dizem por aí, os catalães têm sido racionais e pacientes; a irracionalidade está toda do lado de Madrid, que pura e simplesmente nega a existência do problema. Foi esse estado que conduziu o problema até aqui.

Sabe qual a percentagem de catalães que invoca a questão da independência a pretexto das contribuições que a região faz para o estado espanhol? Não sabe, e eu também não. Estamos no domínio da propaganda, por isso não serve como argumento (embora, ressalve-se, que teriam todo o direito a usá-lo, embora me parecesse desprezável e talvez desprezível até).

A acção do nosso governo deve ser realista e de diálogo com todas as partes, como elemento terceiro que é.
Os "interesses económicos" não interessam nada nesta fase, até porque está por demonstrar que a secessão pacífica da Catalunha, seja catastrófica para nós, em termos económicos. No entanto, como digo, este é o momento da alta política e da diplomacia de escol, e não das mercearias.

"Maneira casuística"? Mas que condições são dadas para um processo normal? Nenhumas. Não estamos a falar do processo escocês e do governo britânico, com o qual não há a mínima comparação, a começar pela história. Pelo contrário, acho até que os catalães, até agora, têm estado a sair-se notavelmente bem.

A questão grega não tem nada que ver com a questão catalã, nada, em nenhum grau, de nenhuma espécie. E é verdade que os gregos foram chantageados porque estavam falidos e porque Tsipras foi um moderado. Mas também não foi a vileza que muitos, à direita, querem dar a entender, ou seja: a capitulação deu-se em moldes minimamente definidos pelos próprios gregos. E a questão, repito, não interessa nada para os que querem a soberania.

Creio que o estatuto de nacionalidade é consagrado pelo enquadramento jurídico do estado espanhol. Nem estou a ver como o não seja, ao consagrar inúmeras especificidades, a começar pelas línguas. Mais uma vez, argumentos jurídicos, mesmo que válidos, o que é discutível, são outra irrelevância num processo de autodeterminação.Têm a mesma relevância que tinham as nossas 'províncias ultramarinas' em face da acção dos movimentos de libertação das colónias, ou seja: zero de relevância. Dirá, como muitos: "Ah, mas a Catalunha não é uma colónia!" Pois não, é um território ocupado pela força, e a cujo povo nunca foi perguntado se assentia com essa situação. Não há um único argumento intelectualmente honesto que o possa contestar.

[Essa história do Porto e do Norte foi um argumento apatetado duma indivídua, Apatetatado porque não é sério, e porque obriga a ser inane, ao lembrar que Portugal é um estado-nação, coisa que Espanha nunca foi; e que o próprio nome de Portugal veio daí: Porto e Gaia. Ora bolas.]

Se houver violência (...) mas a que preço: é o preço que estiverem dispostos a pagar. Nem com o Ghandi aquilo foi lá com carícias. Se não quiserem, mais vale ficarem quietos e continuarem a ser uma província espanhola, eles é que sabem.

Sobre hidroeléctricas, não faço ideia; talvez fosse melhor nós por cá estarmos atentos às centrais nucleares e aos desvios dos caudais dos rios, não seria mal pensado. Quanto aos bancos...

A UE vai limitar-se a ir atrás dos acontecimentos, a não ser que a Alemanha resolva fazer algo, que eu não estou bem a ver o quê. Mais preocupada poderá estar a França, que também tem questões nacionais no seu território, mas penso que neste momento estará mais ocupada com o jihadismo, numa população com seis milhões de muçulmanos.

O Puigdemont é da direita independentista; a questão é a relação de forças com as esquerdas. Mas, reafirmo, este é um momento como há poucos para forçar a independência, dado o equilíbrio de forças. Até agora estão a fazer tudo bem; mas só estamos no meio do processo...