segunda-feira, outubro 16, 2017

a falência do Estado

Não me apetece nada escrever em cima do acontecimento, mas ver as imagens do centro e norte do país a arder, nas cidades, vilas e aldeias, nas autoestradas e vias férreas provocam uma angústia indizível.

Décadas de abandono do interior, envelhecimento populacional, regime de propriedade obsoleto não alterado por cobardia ou cálculo político, falta de civismo das populações (o analfabetismo e o atraso com que o país foi governado até ao 25 de Abril de 1974 pagam-se caro e reflectem-se na indigência das chamadas elites políticas deste país, de Norte a Sul).

Sim, pois, as alterações climáticas, ah, e os eucaliptos também. Há pouco ouvi o meu conterrâneo Eugénio Sequeira afirmar que temos dez vezes mais ignições do que o resto da Europa, e não será por sermos dez vezes mais estúpidos. Pois não, provavelmente será por sermos dez vezes menos qualificados, por termos uma administração miserável, sempre em reestruturações, com a criação de múltiplos centros de decisão intermédios, cargos de chefia e papelinhos a subir e a descer, em que aos bombeiros se veda a acção antes da decisão dos coordenadores da protecção civil, com as suas parvas boinas militares e as aldrabices nas habilitações de cursos tirados à pala das equivalências, uma das muitas burlas que grassa por este país, a somar à legislação imbecil parida uns tipos quaisquer a partir dos gabinetes para somar à pobreza e à velhice das populações rurais.

O que espero do conselho de ministros especial de sábado é a extinção desta coisa da Protecção Civil e a criação para ontem de um novo organismo, aproveitando o que houver a aproveitar, a partir dos relatório dos peritos; é a eliminação das negociatas com os privados; é a reforma da propriedade rural, o fim do nanofúndio; é o fim da 'época de incêndios' com folha no calendário. E que essa comissão de peritos prossiga o trabalho, cooptando peritos em áreas não representadas, se for caso disso e reforme o Portugal rural. Aliás, o PR, pelo poder de influência política decisivo que possui, pode exercer um papel decisivo, se não se limitar a visitas de condolências, que também são precisas, mas não chegam.

2 comentários:

sincera-mente disse...

Lúcido. Subscrevo, acrescentando que talvez seja o momento de atribuir a defesa do território,a começar pela floresta, a quem existe para defender o país, as forças armadas. Penso que é uma das suas missões naturais.
Relativamente à intervenção do PR, o homem falou grosso, esta noite. Aleluia!

R. disse...

Obrigado pelo cumprimento, caro Fernando. Sim, o PR disse o que tinha de ser dito, duma forma hábil, mas firme. É para isso que ele lá está, de resto. Quanto à tropa, francamente, não sei se tem as competências específicas para essa função; creio que a sua intervenção será sempre subsidiária, mas nem por isso menos necessária. De qualquer modo, é um assunto muito técnico, que não domino.